Petroquímica brasileira Braskem faz parceria com empresa de biotecnologia dos Estados Unidos e com a Michelin para desenvolver e comercializar isopreno renovável
Os pneus são feitos de borracha desde 1988, quando o inventor escocês John Boyd Dunlop criou uma roda com câmara de ar inflável para o velocípede do seu filho. Antes as rodas eram de madeira ou ferro, o que causava grande desconforto em ruas esburacadas.
Agora a petroquímica brasileira Braskem, do grupo Odebrecht, anunciou que está criando um novo material derivado da cana-de-açúcar para a produção de pneus.
A empresa fez uma parceria com americana Amyris, que atua no setor de biotecnologia, e a fabricante francesa de pneus Michelin, para desenvolver e comercializar isopreno renovável, matéria-prima que será utilizada na fabricação de pneus e outras aplicações de borracha.
As companhias irão trabalhar em conjunto no desenvolvimento de uma tecnologia para utilizar açúcares de plantas, como os da cana-de-açúcar e de fontes de celulose, para produzir o isopreno renovável.
“A Amyris vai dividir seus direitos de comercializar a tecnologia de isopreno renovável desenvolvida sob sua colaboração com a Braskem. A Michelin manterá certo acesso preferencial, mas não exclusivo, ao isopreno renovável a ser produzido com a tecnologia”, afirmaram as empresas.
A Amyris, que tem sede no Vale do Silício, fornece alternativas sustentáveis para uma ampla gama de produtos derivados do petróleo. Ela utiliza sua plataforma de biologia sintética industrial para converter açúcares vegetais em uma variedade de moléculas – blocos de construção flexível que pode ser utilizado numa vasta gama de produtos.
O isopreno convencional é um composto orgânico tóxico que é utilizado na fabricação do poliisopreno, a borracha. O produto também é usado como catalisador para a obtenção de outros compostos químicos.
No Brasil, cerca de 100 milhões de pneus entram no mercado a cada ano. Cerca de 60% são fabricados no País e o restante vem do exterior.
Para o consultor de Emissões e Tecnologia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Alfred Szwarc, a parceria é mais um exemplo que amplia o leque de opções em que a cana pode trazer contribuições significativas, um horizonte que vai muito além das commodities açúcar e etanol.
“A diversidade desse mercado é enorme e a oportunidade é gigantesca para o setor sucroenergético. O desafio é tornar o produto viável comercialmente para produção em grande escala,” afirma Szwarc. Para ele, além da demanda crescente por bioplásticos, o uso da cana para fabricação de matéria-prima em pneus tem o apelo da sustentabilidade. “Do ponto de vista ambiental, as vantagens de se produzir um produto renovável são muito maiores, principalmente quando comparadas ao uso de um derivado de petróleo,” explica.
“Esta parceria permitirá a ambas as empresas continuar a tradição de inovação da Michelin na indústria de pneus e expandir a plataforma industrial de biotecnologia da Amyris para novos produtos,” disse John Melo, CEO da Amyris. Segundo ele, a demanda crescente por isopreno e a vontade de ampliar as fontes de matérias-primas sustentáveis criam uma grande oportunidade para a Amyris trazer para o mercado soluções renováveis como o pneu feito de isopreno a partir da cana, o que também poderia ajudar a reduzir a volatilidade dos preços.
A Amyris e a Michelin informaram que dividirão os custos e recursos técnicos para desenvolver a produção do isopreno, que deve ser comercializado a partir de 2015. Pelo acordo, a Michelin compromete-se com o escoamento do produto por um período de dez anos, enquanto a Amyris mantém o direito de vender o isopreno para seus clientes.
A tecnologia da Amyris, usada atualmente para produzir, em escala comercial, uma molécula com 15 átomos de carbono chamada farneseno, também pode converter açúcares de plantas em isopreno, uma molécula contendo cinco átomos de carbono e que constitui o principal ingrediente para produção de borracha sintética. Tradicionalmente, o isopreno tem sido obtido como um sub-produto da produção de etileno ou a partir de resíduos de refinaria.
Fonte: Estadão