Empresas investem firme em aperfeiçoamento de seus profissionais. Paralelo a isso, eles querem bons salários, planos de carreira e satisfação pessoal na atividade que desempenham
As empresas querem hoje os melhores profissionais, mas eles também querem as melhores oportunidades. Se antes o trabalhador pensava muito antes de sair ou não de um emprego mediano, mas estável, hoje, o seu grande desafio é gerir com liberdade e independência a sua própria carreira, sem medo de ser feliz e realizado.
Esse cenário é vivido tanto no setor público quanto no setor privado, exigindo de governos e das empresas ações de valorização destes talentos, ávidos não só por sucesso profissional, mas também, realização pessoal. Foi justamente isso que aconteceu com o analista de sistemas, Caio Marques. Após se formar em 2009, Caio se decepcionou com a oferta de salários que Salvador oferecia.“Ganhava R$ 2.500 mais os benefícios básicos de plano de saúde, transporte e alimentação, porém trabalhava fazendo de um tudo”.
Já que o foco era uma “remuneração justa pelo o que fazia”, Caio direcionou sua carreira para trabalhar em organizações de grande porte. “Comecei a me inscrever em processos para trainnee, vagas fora de Salvador e participar de seleções, visto que esse passou a ser meu objetivo”, conta ele.
Cerca de oito meses e vários processos seletivos depois, o analista de sistemas viu no horizonte a vaga que sua carreira queria alcançar. “Após teste de inglês, conhecimentos gerais, dinâmica de grupo, entrevistas com o RH e com os gestores da área, além de uma conferência por telefone com a equipe técnica, eu consegui ser contratado”. Hoje o analista, que tinha uma expectativa de salário estimada em R$ 4.500, recebe quase o triplo do que ganhava quando se formou.
Após um ano e meio como assistente, Caio participou de um processo seletivo dentro da própria empresa, sendo promovido para analista de Tecnologia da Informação. “A recompensa financeira é muito importante, mas existe também o salário indireto como a participação nos lucros e, principalmente, a experiência que a gente adquire. Trabalhando aqui, tive a oportunidade de participar de projetos internacionais e passei um mês na Flórida (EUA)”.
O analista não pensa em voltar de São Paulo tão cedo. “O reconhecimento é o caminho que a gente trilha, o que faz valer a pena. Não é o final, mas a jornada. Esta é a parte gratificante”, assegura, certo da escolha que fez há dois anos e meio atrás.
ESTRATÉGIA
De olho nesta tendência de “voo livre” dos profissionais, as organizações têm buscado cada vez mais o contrário: fidelizar o funcionário, despertar um sentimento de pertencimento e engajamento. É o que explica a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos na Bahia (ABRH-BA), Ana Cláudia Athayde. “O conceito agora é de engajamento, como uma maneira de conciliar as qualidades, competências com os valores da empresa, numa via de mão dupla e de cumplicidade entre os trabalhadores e a organização”, considera.
Mesmo sendo o sonho de muitos pela a estabilidade que oferece, o serviço público também exige da gestão diversos planos de incentivo para não perder os seus melhores quadros. Segundo o secretário de Gestão de Salvador, Alexandre Paupério, o investimento no servidor é uma das grandes preocupações da Prefeitura, por entender sua importância estratégica.
“O esforço em motivar e engajar os profissionais é constante. Nós estamos com o Plano de Carreira para ser aprovado, fizemos reajustes em várias categorias, além da oferta de benefícios, como a mudança do plano de saúde do servidor”. Até o final do ano será implantada a Escola do Servidor e o Líder Servidor. “O primeiro projeto tem como proposta capacitar e requalificar o servidor. Quanto ao segundo, a ideia é identificar talentos e focar no desenvolvimento deles, para que possam assumir as posições de destaque no munícipio”, assegura.
Empresas como a Cameron Vescon, que atua na fabricação de equipamentos para o mercado de Petróleo e Gás, também seguem esta tendência de valorização e investimento de seu corpo funcional. De acordo com a gerente de Recursos Humanos da unidade em Simões Filho (BA), Isabela Dantas, é este investimento que irá ser o diferencial no mercado e gerar valor perante a concorrência.
A multinacional promove mensalmente um programa de reconhecimento, em que os colegas de trabalho votam entre eles e os dois mais votados são certificados e premiados com brindes. “A gente vai investir naquele profissional que está comprometido com a empresa, busca inovação, traz soluções ao invés de problemas e que sabe trabalhar em equipe, que se sinta parte dos processos da empresa”.
PROCURA-SE
Diante deste cenário, Isabela Dantas considera importante que o profissional invista nele mesmo para que possa, além de concorrer a uma boa vaga de emprego, se destacar enquanto valor de mercado para a empresa onde trabalha. “Não dá para ficar só esperando que a empresa invista nisso. Até porque ela só vai acreditar no profissional que faz por merecer pelos próprios méritos pessoais. Ele precisa entender que a carreira é uma coisa que deve ser gerida por ele e não ficar esperando que a empresa faça este papel”.
A Prefeitura Municipal de Salvador adianta que dentro de 60 dias, após a aprovação do Plano de Cargos na Câmara, irá divulgar o seu cronograma de concursos a serem realizados até o final da gestão. “Entendemos a importância de um profissional motivado e engajado para a mossa gestão. Por isso, queremos na prefeitura pessoas que vão poder assumir e superar as dificuldades que a cidade enfrenta”, é o que afirma o secretário municipal de Gestão, Alexandre Paupério.
Entre as habilidades e competências do profissional que deseja ser um servidor público municipal, ele ressalta a capacidade de liderança e de possuir conhecimento em áreas específicas.
VALOR E BENEFÍCIO
Para o representante comercial Thiago Firne, cursos e treinamentos são importantes, mas uma boa proposta e o um salário que atenda as expectativas são determinantes para que permaneça em uma emrpesa.
“Quando você tem uma família para sustentar e o salário que é pago pela empresa não é suficiente, fica muito difícil não procurar outras coisas que ofereçam uma oferta de salário melhor”, afirma. Para ele, uma média aceitável está em torno dos R$ 5 mil. “Viver aqui em Salvador está cada vez mais caro em todos os sentidos. Preciso pensar no futuro do meu filho”.
Thiago já trabalhou em diversas áreas e rodou o mundo também. Já morou na Irlanda por 2 anos e meio. Depois disso, voltou para Salvador, mas já pensa em sair novamente em busca de melhores oportunidades.“Está nos planos ainda, mas quero mesmo sair de Salvador e morar fora novamente pois preciso dar uma condição de vida melhor para minha família. Provavelmente devo voltar para a Europa”, prevê.
Enquanto não encontra oportunidade melhor, Thiago optou por trabalhar no ramo do marketing de vendas, na área comercial de uma distribuidora de alimentos e bebidas, onde consegue tirar um pouco mais que o salário. “Depende só do meu desempenho, porque a remuneração é variável”.
NOVOS TALENTOS
De acordo com a analista de Seleção e Orientação Profissional do curso de Administração da Faculdade Ruy Barbosa, é no curso superior que começa a nascer o profissional que o mercado precisa. “É lá que ele tem certeza se a profissão que escolheu é a que de fato deseja, já que a motivação é o combustível para o profissional de sucesso que as empresas procuram”, defende.
O pró-reitor de graduação da Ufba, Ricardo Miranda, concorda: “O projeto pedagógico do curso é feito a partir do que se espera da pessoa que o conclui. Fazemos o planejamento do curso para ele tenha a habilidade de identificar o seu objetivo”.
O coordenador do curso de administração da Ruy Barbosa, José Nilo Meira, enfatiza o papel da universidade na formação deste novo talento. “As nossas ementas e conteúdos programáticos são formados para que o aluno tenha capacidade de resolver problemas, trabalhar em equipe, qualidades fundamentais para qualquer profissional de sucesso”.
Estímulo, curiosidade em aprender e foco no objetivo são decisivos, como completa a gerente de Estágio e Formação de talentos do IEL, Edineide Lima. “As empresas querem atrair muito mais as pessoas que tenham interesse, motivação, vontade de aprender do que aqueles que simplesmente têm conhecimento técnico. São estes elementos que determinam o grande potencial do profissional”.
Na hora de negociar, o diálogo é a melhor estratégia
A história lembra dois velhos ditados populares: de um lado, “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”; do outro, “quem não arrisca, não petisca”. Entre a dúvida de ir e a segurança de ficar, a Gerente de Recolocação Profissional da Véli RH, Carine Cidade, explica que o profissional deve colocar o propósito da sua carreira acima de todas as opções. “É preciso primeiro definir o objetivo dele enquanto profissional e a partir daí fazer a melhor escolha entre as perdas e ganhos”, considera.
Ela recomenda ainda que o profissional faça uma espécie de análise sobre as suas forças, fraquezas e ameaças, alinhadas com o seu planejamento de carreira. “A grande pergunta que se deve ponderar é saber se o que se quer e se isto está de acordo com os objetivos do seu plano de carreira, independente de tendências de mercado, mas com foco no planejado”.
Entre a opção A e a opção B está o que ele pode ganhar versus o que ele pode deixar de ganhar. “É preciso se pensar enquanto uma espécie de produto ou serviço a ser prestado, para que sua carreira também seja estrategicamente conduzida”.
Para o profissional que está se sentindo seduzido por uma proposta fora, mas que ainda assim gostaria de permanecer na empresa que trabalha, Carine dá a dica: “seja verdadeiro e busque a negociação com a empresa, antes de tomar qualquer que seja a sua decisão”. Não pegue seu chefe de surpresa. O diálogo vai ser sempre o melhor caminho. “Exponha sua situação com segurança e mostre perspicácia ao mercado”, completa.
O publicitário Martoni Costa viveu recentemente este dilema. Após passar por vários “calvários profissionais”, como o mesmo define, Martoni optou por aceitar a proposta de trabalho feita por uma ONG, onde ele já havia participado de um processo seletivo no ano passado.
“Como passei por problemas de ordem maior não pude ficar mais que 15 dias na instituição. Mas um ano depois fui novamente requisitado para a vaga sob a alegação de que neste período não haviam encontrado nenhum outro profissional com meu perfil e me fizeram uma nova proposta. Nem hesitei em mudar de emprego”.
A negociação começou na saída da antiga empresa. “Nunca bata a porta, deixe-a pelo menos, com uma pontinha aberta. As empresas de hoje se relacionam entre si, mesmo sendo de segmentos diferentes, e um profissional bem relacionado aumenta o seu poder de barganha”, opina, diante da experiência que viveu.
O sócio proprietário da People2People Recursos Humanos, Lucas Freire, defende que a real importância na hora da escolha, tanto para a empresa, quanto para o empregado, está na satisfação de ter o profissional no seu corpo funcional, assim como no mesmo sentimento dele, em fazer parte da organização. “A empresa precisa ter um interesse genuíno pelo trabalhador. Em contrapartida, a identificação é imediata quando ele se sente feliz, realizado e orgulhoso do lugar onde ele trabalha”, finaliza.
Fonte: http://www.correio24horas.com.br/