Pesos-pesados em distribuição de combustíveis no País, os grupos Ultra, dono da rede de postos Ipiranga, e a Raízen, joint venture entre Cosan e a gigante Shell, vão verticalizar suas operações, entrando em todas as etapas do processo – desde o refino até a venda final ao consumidor -, se conseguirem efetivar a compra de refinarias colocadas à venda pela Petrobrás.
A intenção da Ultrapar, ao formar uma consórcio com a petroleira britânica BP, é fortalecer sua estrutura de capital e poder competir em pé de igualdade com os grandes competidores estrangeiros. “Para entrar na disputa para valer, o Ultra precisará ter alguém com capacidade para dividir o cheque“, diz uma fonte.
No terceiro trimestre, o grupo brasileiro encerrou o período com dívida de R$ 8,6 bilhões, o que representou 2,7 vezes o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda). A BP é a maior petroleira da Grã-Bretanha. O Ultra teria tentado também se aproximar de outras grandes petroleiras, como a americana Exxon, mas as conversas não foram adiante.
De acordo com fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast, o interesse do Ultra é conquistar pelo menos uma das quatro grandes refinarias de um total de oito ativos de refino à venda – a Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco; a Gabriel Passos (Regap), em Betim; a Getúlio Vargas (Repar); e a Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas.
O grupo Cosan, que já atua em refino na Argentina, também busca um operador para atuar no Brasil. A Raízen não será controladora do negócio. Uma fonte a par do assunto afirmou que a empresa busca formar um consórcio para que possa fazer a gestão desse negócio.
Tradings suíças e americanas são apontadas como potenciais operadoras que podem se unir a grupos estrangeiros e nacionais para atuar em refino no Brasil.
“O refino no Brasil é um excelente negócio. Para as distribuidoras de combustíveis Ultra e Raízen, que também são importadoras de derivados de petróleo, entrar neste setor faz todo o sentido“, avalia Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Pires lembra que Ultra e Raízen têm sido grandes importadoras de derivados de petróleo de 2016 para cá. “A diferença de frete de exportação de óleo cru e importação de derivados pode ser colocada na margem dessas empresas”, afirma.
A quebra no monopólio de refino da Petrobrás vai criar um novo mercado no setor.
Riscos – Analistas de mercado observam, contudo, que os investidores têm receio de uma eventual intervenção do governo na política de preços, o que pode limitar os ganhos.
“Não é trivial pensar que não há risco, mas a pergunta é quão liberal o Estado brasileiro será em relação ao preço dos combustíveis“, diz Gabriel Fonseca, analista da XP Investimentos.
Em abril, as ações da Petrobrás despencaram depois que o presidente Jair Bolsonaro pediu para suspender o aumento no diesel.
Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, diz que existe um ceticismo no setor de óleo e gás por investidores estrangeiros que precisa ser quebrado ao firmar contratos de longo prazo no Brasil. “Isso ficou muito claro nos leilões de excedentes do pré-sal. Os gringos ficaram de fora, existe um compasso de espera”, diz ele, lembrando das dúvidas sobre regulação e a política de preços.
Fonte: Estadão
+++ A transformação do setor de revenda de combustíveis