Consumo do combustível desabou com isolamento social. Apesar das incertezas, reabertura da economia pode trazer alívio para postos nos próximos meses
O isolamento social para frear o coronavírus enxugou a venda de gasolina no Rio Grande do Sul. Com menos veículos nas ruas, o consumo do combustível despencou 31,9% em abril, frente a igual período de 2019, para 202,76 milhões de litros. Trata-se do menor volume para o mês desde 2009. Naquele ano, foram comercializados 184,95 milhões de litros, indicam dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Os números nacionais também sinalizam queda robusta, mas em nível um pouco inferior ao registrado no Estado. Em abril, a venda de gasolina no país caiu 28,8%, para 2,27 bilhões de litros. É o menor volume verificado para o período também desde 2009 nos postos brasileiros.
— A queda maior no Rio Grande do Sul pode ter relação com o fato de a população ter ficado mais em casa do que em outras regiões — aponta o sócio-fundador da consultoria MaxiQuim, João Luiz Zuñeda.
Em relação a março deste ano, a venda caiu 16,8% no Estado. Na comparação com qualquer mês do calendário, o volume negociado em abril foi o menor desde junho de 2010. À época, o consumo foi de 202,18 milhões de litros.
Economista-chefe da ES Petro, Edson Silva avalia que a pandemia serviu para piorar uma situação que já trazia preocupação. Antes da covid-19, o desempenho do setor era freado pelo fraco desempenho da economia, destaca Silva.
No acumulado de janeiro a abril de 2020, a venda de gasolina tem queda de 12,1% no Estado, conforme a ANP.
— Com o isolamento, setores em que o consumo pode ser substituído sofrem grande impacto. É o caso do mercado de combustíveis — pontua Silva.
A tendência é de nova redução na venda de gasolina em maio, mas em menor patamar do que a registrada em abril. Balanço da Receita Estadual sustenta essa previsão. Com base em notas fiscais eletrônicas, o órgão indica baixa de 18% no mês passado — a ANP ainda não divulgou os dados do período.
Na visão de Zuñeda, o plano de reabertura da economia gaúcha tende a estimular, aos poucos, a retomada do consumo. Ou seja, com mais carros na rua, a venda de gasolina deve subir. A questão é que incertezas relacionadas ao comportamento da pandemia nos próximos meses dificultam projeções mais detalhadas:
Imagino que o fundo do poço tenha sido registrado em abril.
O temor é de que a chegada do inverno piore as condições na área de saúde, e a economia seja fechada novamente. É difícil prever — sublinha Zuñeda.
Um dos efeitos colaterais da redução do consumo atinge os cofres públicos. Conforme o Sulpetro, que representa os postos gaúchos, os combustíveis representam 18% de toda a arrecadação do Estado por meio do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). O baque nas finanças causa apreensão.
Presidente do Sulpetro, João Carlos Dal’Aqua afirma que, para amenizar os prejuízos, o setor recorreu a medidas como suspensão de contratos de trabalho e redução de jornada e salários. Mesmo assim, cortes tendem a ocorrer no quadro de funcionários das empresas. Segundo o dirigente, dificuldades de acesso a crédito desafiam a reação:
— Abril foi o pior mês. Em maio, houve uma pequena melhora, mas o cenário não está muito definido. Dependemos das outras atividades econômicas. O setor não parou na pandemia, porque é essencial, mas a dificuldade para manter operações é muito grande. Equipes devem ser reduzidas, o que é uma lástima.
Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/economia
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