Para a maior parte dos brasileiros, abastecer um veículo é algo simples: basta encontrar as grandes redes de distribuição e solicitar o produto de maneira segura e confortável.
Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), o Brasil contava, em 2018 (ano do último levantamento), com 40.021 postos revendedores de combustível.
A realidade da distribuição de canais de abastecimento no Brasil é desigual. A Região Sudeste concentra 39,1% do total de postos, ao passo que a Região Norte concentra 7,2% do total de revendedoras de combustíveis.
A escassez de distribuição gerou, como consequência, um mercado alternativo adaptado às necessidades dos moradores do Norte – que além do fluxo de carros, motos e caminhões, conta ainda com o alto tráfego fluvial de barcos e embarcações marítimas. Além disso, em comunidades ribeirinhas da Região Norte onde a energia elétrica não chega é o combustível que alimenta o lampião e os geradores, que permitem o funcionamento de eletro eletrônicos como televisão e ventiladores.
Gasolina no litrão
Vendidos em estruturas e contêineres rudimentares, como garrafas PET reutilizadas, os combustíveis passaram a ser comercializados de forma precária, sem segurança, muitas vezes na própria residência dos motoristas e moradores de lugares isolados. Essas pessoas, ao contrário dos moradores de outras regiões que têm ampla oferta de combustível, ficam a dezenas de quilômetros de distância dos centro mais próximo de distribuição. Estocar combustíveis, neste cenário, torna-se uma necessidade regular.
“Quando a gente puxa o combustível na mangueira, a gente sabe que é muito prejudicial para a saúde”, afirma Jacikele Santos. Presidente da Comunidade Terra Preta, ela trabalha na revenda de inflamáveis há 6 anos, como inúmeras outras mulheres da região. Segundo seu relato, as condições de trabalho sempre foram adversas – cenário que mudou há pouco tempo com a chegada do curso de capacitação oferecido pelo Projeto Amazônia Sustentável (PAS) em parceria com a Petrobras.
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A iniciativa, chamada Pontão Caboclo Sustentável, se baseou na norma NR-20, um dispositivo regulamentador criado pelo Ministério do Trabalho que define ações para priorizar os cuidados com a segurança e com a saúde no trabalho com inflamáveis e combustíveis. “Depois do curso, a gente trabalhou para fazer nosso posto de combustível e aquilo que era um sonho, virou realidade. Hoje, a gente já sabe qual é a forma correta de manusear o combustível”, conta Jacikele, que transformou o antigo depósito caseiro de madeira em uma estrutura de alvenaria com ventilação para armazenar a gasolina que vende.
Conhecimento ribeirinho
Para Gil Lima, que coordena o projeto de ensino do manuseio de combustíveis, o resultado é comunitário e deve afetar culturalmente a região, já que os moradores compartilham as novas técnicas e ajudam a reduzir os riscos de acidente para todos os vizinhos e clientes. “O foco do projeto é partilhar conhecimento. Com essa ferramenta, a FAS investe na nossa infraestrutura de forma adequada à realidade ribeirinha. O resultado é o engajamento das pessoas, que aliam tecnologias sociais ao conhecimento tradicional”, explica.
Investimento e estrutura – Capacitação de comunidades ribeirinhas da Amazônia para armazenar e comercializar, com segurança, combustível na região.
“O que a gente percebe quando eles recebem o kit é o sentimento de alegria, de algo que se tornou real. Você se sente ajudando a organizar uma atividade que antes tinha pouca segurança e agora passa a ter mais”, afirma Elizeu Silva, assistente de empreendedorismo do projeto.