Com o repasse dos últimos reajustes promovidos pela Petrobras em suas refinarias, o preço do diesel nos postos brasileiros já superou os patamares atingidos antes da greve dos caminhoneiros que paralisou o país em 2018.

Nesta segunda (8), a estatal anunciou novo aumento, de 5,5%, que deve frustrar as expectativas de queda geradas pela isenção de impostos federais na semana passada. A gasolina também subirá a partir desta terça (9), em 8,8%.

De acordo com dados da ANP, o litro de diesel era vendido na semana passada, em média, a R$ 4,23.

É o terceiro maior valor da série histórica da da pesquisa de preços da agência, iniciada em 2004.

Fica atrás apenas dos valores verificados nas duas últimas semanas de maio de 2018, quando o diesel era vendido, em valores corrigidos pela inflação, a R$ 4,26 e R$ 4,30 por litro, respectivamente. Naquele momento, porém, os preços refletiam problemas de abastecimento provocados pela greve.

Na comparação com as semanas que antecederam a paralisação, o preço atual já é maior: na primeira semana de maio de 2018, em valores corrigidos, o litro do diesel era vendido nos postos a R$ 3,94, em média.

A escalada atual ocorre mesmo com o petróleo em níveis mais baixos do que no período da greve. No primeiro dia de junho daquele ano, a cotação do Brent chegou a tocar os US$ 80 (cerca de R$ 300 pela cotação da época, em torno de R$ 3,70).

Agora, o petróleo está perto dos US$ 70, mas o real está muito mais desvalorizado, em torno dos R$ 5,80, pressionado pela crise fiscal e pelos erros na condução da política econômica do governo Jair Bolsonaro (sem partido) em meio a um cenário de juros mais baixos.

Com petróleo em recuperação após o pior período da pandemia e dólar depreciado, a Petrobras promoveu cinco reajustes no preço do diesel apenas em 2021, com alta acumulada de 41%. O repasse às bombas já soma 16,7%, segundo a ANP.

Os dados da agência ainda não captam repasses do reajuste desta terça. Por outro lado, também não sofreram impacto da isenção de PIS/Cofins anunciada pelo presidente Bolsonaro há duas semanas, o que garantiria um desconto de R$ 0,30 por litro.

A medida foi anunciada como parte de um esforço para acalmar os caminhoneiros, que já tentaram paralisar as estradas este ano, mas sem sucesso. ​

Nos primeiros dias após o início da isenção, os preços chegaram a subir nas bombas, com repasses de reajustes anteriores e do aumento no preço de referência para a cobrança do ICMS. O reajuste desta terça, de R$ 0,15 por litro, deve segurar ainda mais os cortes.

O preço da gasolina nas bombas acumula alta de 17,7% no ano. Nas refinarias, após seis reajustes em 2021, o aumento já é de 54%.

Na semana passada, o litro da gasolina era vendido nos postos, em média, por R$ 5,29, valor ainda bem abaixo dos recordes registrados na série histórica da ANP: Em valores corrigidos pela inflação, o combustível chegou a custar mais de R$ 5,60 em 2006.

A escalada do preço dos combustíveis ocorre em meio ao recrudescimento da pandemia, que deve ter impactos no mercado de trabalho e na renda dos brasileiros, e pressionam as projeções de inflação para o ano. Nesta segunda, especialistas ouvidos pelo relatório Focus, do Banco Central, elevaram suas expectativas para o IPCA de 2021 de 3,87% para 3,98%.

O cenário abriu uma crise entre Bolsonaro e o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, que foi demitido em publicação em rede social no último dia 19, medida que derrubou as ações da companhia por medo de intervenção do governo na política de preços da empresa.

O anúncio da substituição de Castello Branco pelo general Joaquim Silva e Luna, que comanda Itaipu Binacional, levou a uma debandada inédita no conselho de administração da estatal, com cinco conselheiros recusando convite do governo para renovação de mandatos.

Nos comunicados em que informa os reajustes, a Petrobras tem defendido a política de preços, dizendo que o alinhamento às cotações internacionais “é fundamental para garantir que o mercado brasileiro siga sendo suprido, sem riscos de desabastecimento, pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às regiões brasileiras”.

PREÇO DO ETANOL TAMBÉM TEM ELEVAÇÃO

Com o aumento do preço da gasolina, os motoristas que possuem carro flex costumam encontrar no etanol uma alternativa mais barata para abastecer. No entanto, muitos têm se surpreendido com o preço do combustível nos postos, que saltou de R$ 3,221 em janeiro para R$ 3,901 na semana passada, conforme levantamento da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

A alta de mais de 21% está relacionada com o preço da cana de açúcar, que subiu em razão do período de entressafra e da falta de chuvas, o que prejudicou uma produção que já estava menor.

— Todo ano existe uma oferta menor de cana de açúcar nesta época, em razão da entressafra. Mas desta vez o problema foi agravado pela estiagem, e pelo próprio aumento de demanda pelo etanol, por causa da alta na gasolina, que fez com que o preço do álcool também aumentasse — explica Tiago Sayão, professor de Economia do Ibmec, que complementa: — Uma parte da complementação do etanol vem do milho, cuja produção também ficou abaixo do esperado, e foi mais um fator complicador.

Economista do Ibre/FGV, André Braz afirma que a alta de preços atingiu o setor sucroalcooleiro como um todo. De acordo com o Índice de Preços ao Produtor Amplo – Disponibilidade Interna (IPA-DI), que mede a inflação de produtos agropecuários e industriais nos estágios de comercialização anteriores ao consumo final, a cana de açúcar acumula alta de 18,9% em 12 meses.

O álcool hidratado passou de 2,25% em janeiro para 11,46% em fevereiro, e acumula alta de 12,73% em 12 meses. Já o açúcar para exportação, que subiu 9,85% em fevereiro, teve alta de 48,4% em 12 meses.

Por enquanto, os especialistas não observaram influência do dólar no aumento do etanol.

Há o risco, porém, de que, caso a exportação de açúcar se torne mais vantajosa, as indústrias aumentem a produção do insumo em detrimento do biocombustível.

— A depender dos preços internacionais do açúcar, as usinas podem produzir mais açúcar e menos etanol, e aí o preço do álcool dispara. Ou o inverso. Mas atualmente os repasses têm sido mais ou menos na mesma magnitude — pondera Braz.

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