Desde o começo do programa de biodiesel ouvimos reclamações sobre a formação de borras ao longo da cadeia produtiva – especialmente por parte de atores à jusante da cadeia como distribuidoras, TRRs e revendedores – e que como essa questão afetava os consumidores finais.

Nos primeiros tempos o PNPB, a resposta foi um movimento para a adequação dos equipamentos e, principalmente, um apelo para maior adesão agentes às melhores práticas de manutenção dos tanques de armazenamento de combustíveis.

As reclamações, a princípio pontuais, se tornaram uma grita em 2010 na época do lançamento do B5 levando a uma revisão da especificação do biodiesel. Depois disso – nos incrementos até o B10 – as reclamações, embora nunca tenham desaparecido, amornaram o que gerou a percepção de que o problema estava domado. Só que os aumentos subsequentes até a chegada do B13 em março de 2020, as reclamações voltaram a ganhar corpo. Repentinamente, pessoas que nunca tinham falado sobre a qualidade do diesel passaram a se preocupar com a assunto chegando a chamar a mistura de biodiesel uma “adulteração” oficial.

bomba de biodiesel
Percentual de biodiesel no óleo diesel é tema polêmico (Foto: Shutterstock)

O principal motivo para essa campanha contra de biodiesel ter se tornado mais forte é a situação de fragilidade em que o setor se encontra agora.

A insatisfação com os reajustes do óleo diesel colocou o biodiesel em evidência em um momento em que o produto está com seus preços elevados por causa das cotações internacionais da soja. Nesse contexto, chega a ser previsível que mais pessoas questionem o uso do biocombustível.

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Na cabeça delas, a questão é se vale a pena reduzir o lucro de hoje para minimizar as consequências do aquecimento global daqui alguns anos. Ou o quanto elas estão dispostas a aguentar um desgaste com seus consumidores.

A maioria das pessoas tem franca dificuldade em entender que as ações de hoje têm consequências décadas adiante, preferindo o prazer imediato a uma vida mais balanceada. Os consultórios médicos estão cheios de casos que poderiam ter sido evitados com um pouco de atividade física diária e alimentação correta. Sendo assim, fica difícil transmitir a noção de que pagar um pouco a mais pelo diesel hoje não é um “custo”, mas um investimento que precisa ser feito em nome do futuro. Tentar vender esse argumento em um governo como o atual é ainda mais difícil.

A saída para o setor produtivo é reconhecer que foram cometidos erros no passado e se preparar para uma maratona de desafios no futuro.

O primeiro erro a ser reconhecido é que, em parte, os questionamentos sobre a qualidade do biodiesel chegaram ao ponto atual por omissão. Quando alguém disse, anos atrás, que os postos estavam tendo problemas com a formação de borras, os representantes do setor aceitaram a acusação por seu valor de face e abriram mão de fazerem perguntas importantes: Qual posto teve problema? Onde ele se localiza? Em que dia aconteceu? Qual foi a distribuidora que forneceu o diesel? Essa distribuidora comprou biodiesel de quais usinas? Quando o posto afetado fez a última limpeza de seus tanques? Se o problema é a mistura de biodiesel, por que o problema não acontece em todos os postos que vendem o Diesel B?

Tanto que no último dia 05, durante uma audiência pública convocada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para discutir a o futuro Programa de Monitoramento da Qualidade do Biodiesel (PMQBio), o especialista em regulação da ANP, Alex Rodrigues Brito de Medeiros, reconheceu, apesar de receber reclamações de há vários anos, faltam dados quantitativos sobre esse problema. “Recebemos reiteradamente reclamações de entidades e empresas (…) com fotos e relatos dos problemas, mas temos poucos dados técnicos”, disse ele durante o evento.

Se o setor tivesse se mobilizado para coletar os dados necessários para dar respostas sólidas às acusações vagas que vinham sendo feitas contra o biodiesel, a percepção de que a mistura representa um problema não teria se sedimentado. Mas o setor preferiu dar de ombros para os relatos.

Agora o setor tem que correr atrás do tempo perdido e mostrar para um monte de gente que não entende nem de diesel e nem de biodiesel, mas que vem falando do assunto e influenciando o público a pensar que o biodiesel é uma “adulteração”.

E terá fazer isso enquanto é flanqueado pela Anfavea, pelo IBP, pela Brasilcom e pela Fecombustíveis que vem se aproveitando da situação e de um governo avesso ao meio ambiente.

Mas esse é o jogo. As usinas de biodiesel também se aproveitaram e fizeram suas vontades prevalecerem quando o ambiente político era mais favorável aos seus interesses. Em um governo sem rumo ou grandes planos, cada setor está tentando ganhar espaço. Aqueles que têm argumentos simples e podem colher resultados de curto prazo acabam prevalecendo sobre os que envolvem mais complexidade e retorno melhores no longo prazo.

Miguel Angelo Vedana – BiodieselBR.com

A qualidade do diesel no Brasil não vinha numa sequência muito boa. Desde o final do ano, os indicadores vêm se deteriorando. Mesmo assim, o mês de abril marca um ponto particularmente agudo nessa trajetória. Segundo novos dados coletados pelo Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis (PMQC), o índice de não conformidade – que mede o percentual das amostras coletadas que não atingiram os padrões de qualidade – ficou acima de 8,1% no mês passado. Esse é o pior resultado desde que o biodiesel foi introduzido na matriz nacional de combustíveis em janeiro de 2008.

De 2.300 amostras coletadas em 15 unidades da federação, nada menos que 187 apresentaram algum problema de qualidade.

Antes, o pior resultado do histórico havia sido registrado em julho de 2018 quando ficou em 7,4% – na onda provocada pelo salto do B8 para o B10 em março daquele ano. Depois disso, os indicadores entraram nos trilhos. Tanto o B11 e quanto o B12 foram implementados sem grandes sustos em termos de qualidade do diesel.

A partir de novembro, contudo, algo parece ter mudado no mercado. Nos últimos cinco meses, a não conformidade disparou de 2,1% para os atuais 8,1%.

Autor/Veículo: BiodieselBR

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