Desde que Joaquim Silva e Luna assumiu a petroleira, esta é a primeira vez que a estatal decide elevar os preços da gasolina e do diesel, diante da valorização do petróleo no mercado internacional

Os aumentos de 6,3% no preço da gasolina e de 3,7% no diesel, válidos a partir do dia 06/07  nas refinarias da Petrobras, podem reforçar uma tendência inflacionária nas bombas dos postos que sido observada, nos últimos meses, independentemente da estratégia da estatal de segurar reajustes.

Desde que Joaquim Silva e Luna assumiu a petroleira, na segunda quinzena de abril, esta é a primeira vez que a estatal decide elevar os preços da gasolina e do diesel, diante da valorização do petróleo no mercado internacional.

De acordo com o levantamento de mercado da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), na semana em que Silva e Luna tomou posse como presidente da Petrobras, no dia 19 de abril, o preço do litro da gasolina, nos postos, era vendido a, em média, R$ 5,441.

? Desde então, foram nove semanas seguidas de aumento dos preços finais do derivado, até os R$ 5,695 da semana iniciada em 20 de junho. Nesse intervalo, houve uma alta de 4,6%, até que na semana passada (entre 27/06 e 03/07) o preço da gasolina nos postos registrou um pequeno recuo de 0,15%.


O presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), Paulo Miranda, lembra que os preços de combustíveis, no Brasil, são livres e que acredita que, devido à margem apertada do setor, os reajustes da Petrobras devem ser, de uma maneira geral, repassados ao consumidor. Segundo a entidade, a margem bruta média da revenda é de 9,8% no país, mas nas capitais esse percentual chega a 6%.

“Trabalhamos com margens tão apertadas que fica difícil [não repassar]… Essa instabilidade de preços é muito ruim para o nosso mercado. Quanto mais caro o produto, mais difícil de vender”, justifica.

O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, estima que o reajuste nas refinarias vai chegar às bombas dos postos nos últimos dez dias de julho. Portanto, o impacto integral no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve ocorrer em agosto.

Miranda destaca ainda que, independentemente de a Petrobras segurar reajustes, há outros elementos que podem levar a um aumento nos preços dos combustíveis. Ele cita que, nos últimos meses, os preços dos biocombustíveis que são misturados ao diesel e gasolina estão em alta.

Todo litro de gasolina vendido nos postos do Brasil conta com uma mistura de 27% de etanol anidro.

Os levantamentos de preços realizados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP) mostram que, em 12 meses, entre a primeira semana de julho de 2020 e igual período deste ano, o preço do biocombustível subiu 77,8%. Nos últimos meses, desde a semana em que o novo comando da Petrobras tomou posse, a inflação é de 12,2%.

No caso do diesel, por sua vez, o derivado conta com uma mistura de 13% do biodiesel.

Esse patamar, porém, foi reduzido temporariamente para 10% devido ao encarecimento do biocombustível, na esteira da valorização do óleo de soja no mercado internacional. No leilão de biodiesel nº 79, que contratou volumes para abastecimento ao mercado entre maio e junho, por exemplo, o litro do biodiesel foi negociado, em média, a R$ 5,536, uma alta de 17,6% em relação à licitação anterior.

A empresa Edenred, que atua no setor de serviços e pagamentos e faz levantamentos de preços, calcula que o litro da gasolina nos postos brasileiros avançou 25% no primeiro semestre. O etanol, por sua vez, ficou 36,3% mais caro.

A inflação, nas bombas, tem se acentuado desde junho. A Triad Research, empresa de pesquisa de mercado que trabalha com um universo maior de postos pesquisados, calcula que o preço médio da gasolina se mantém acima dos R$ 5,8 o litro desde 28 de junho. Ontem, o derivado fechou o dia a um preço médio de R$ 5,81 no Brasil – patamar 2,3% superior ao registrado em 1º de junho.

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Em pouco mais de dois meses sob o comando de Silva e Luna, a Petrobras mexeu três vezes nos preços dos derivados: antes do reajuste de hoje, a empresa havia reduzido em 2% o diesel e a gasolina no dia 1º de maio; e, em 11 de junho, cortado em 1,9% a gasolina e aumentado em 6% o gás liquefeito de petróleo (GLP).

(Com conteúdo publicado originalmente no Valor PRO, o serviço de notícias em tempo real do Valor)


Caminhoneiros também reclamam de preços do óleo lubrificante

O preço dos combustíveis, que teve um novo reajuste anunciado nesta segunda (5) pela Petrobras, se soma a outra queixa dos caminhoneiros: o custo do óleo lubrificante.

O presidente da ANTB (associação nacional do transporte), José Roberto Stringasci, diz que sentiu u

m aumento de cerca de 20% nos últimos dois meses, depois de o preço já ter subido em 2020.

Segundo ele, a troca de óleo de um caminhão, que custava pouco mais de R$ 1.100, hoje pode chegar a R$ 1.500 em alguns estados. Setores da categoria voltam a falar sobre uma nova paralisação a partir de 25 de julho motivada pelo cenário de preços.

Petrobras afirma que registrou participação de 28% no atendimento do mercado de óleos básicos em 2021. A maior parte do produto vem do exterior (55%) e o restante é de rerrefino (17%), que limpa o óleo para reutilização.

A estatal diz que a queda na demanda entre março e junho de 2020 estimulou a redução da produção nacional e das importações. O mercado voltou a se aquecer em julho do ano passado e chegou a níveis pré-pandemia, levando à escassez da matéria-prima com elevação de preços.

Os valores internacionais dos óleos básicos variaram entre 200% e 360% nos últimos 12 meses, de acordo com o tipo do produto, segundo a Petrobras, que afirma ter aplicado reajustes menores no período, mas não divulga os preços.

Procuradas pela reportagem, a Shell Brasil não se manifesta e a BR Distribuidora diz que não comenta sobre preço.

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