Um melhor ambiente comercial no terceiro trimestre de 2023 (3T23) e ganhos de estoque levaram as empresas de distribuição de combustível a melhores margens no período.
O fato é que o observado neste mercado no 1º semestre, com excesso de oferta de produtos e elevada importação do diesel russo, criou uma condição atípica no setor, levando as empresas a superarem fortemente as expectativas e registrarem fortes variações dos balanços na comparação anual.
A Vibra registrou um lucro líquido de R$ 1,255 bilhão em seu balanço referente ao 3T23, revertendo prejuízo líquido de R$ 61 milhões do mesmo período do ano anterior. O consenso LSEG previa lucro líquido de R$ 881,1 milhões. Já a Ultrapar, dona dos postos Ipiranga e da Ultragaz, registrou um lucro líquido de R$ 891,2 milhões no período,, mais de dez vezes superior (978,9%) aos R$ 82,6 milhões reportados no mesmo período do ano anterior.
Mas a Vibra, Ultrapar e também a Raízen foram cautelosas com relação às perspectivas futuras.
Perdas de estoques
As principais distribuidoras destacaram em teleconferências a previsão de perdas de estoque no 4T23. O motivo é que o preço do combustível no Brasil está acima da paridade internacional.
Portanto, prevê-se elevada importação de produtos nesse final de ano, fazendo com o mercado interno reduza o preço para competir com o combustível que vem do exterior.
Vibra: Produto importado tirou mercado
Ernesto Pousada, CEO da Vibra, afirmou em teleconferência de resultados do 3T23 que vê nessa segunda quinzena de novembro e em dezembro chegada maior no país de produtos de fora.
No meio do ano, o combustível importado, muito comercializado pelos chamados postos sem bandeira, chegou a tirar mercado da Vibra.
“Nós fechamos em setembro com 26% de market share. Nós perdemos um pouco em julho porque teve muito diesel russo”, comentou o executivo.
Aliás, a compra de diesel russo já está no radar da empresa, depois de alguma resistência, “cumprindo todas as regras de compliance”, ressaltou o executivo – e, claro, caso o preço seja favorável. “É parte da política”, disse.
Com o avanço do mercado não bandeirado, a Vibra mencionou que será ‘incansável’ no movimento contra as irregularidades conhecidas do setor, com adulteração e sonegação de produtos. A companhia tem clareza que o combate aos vícios do mercado lhe ajudará no ganho de rentabilidade.
Ultrapar: Volatilidade à vista
A Ultrapar também prevê entrada alta de combustível importado no Brasil nesse final de ano e fala em reajuste dos combustíveis para baixo em breve.
“O preço (do combustível) no Brasil está mais caro do que o preço internacional, então tem uma tendência de entrar muito produto no país”, comentou Marcos Lutz, CEO da companhia, na tele de resultados do 3T23.
O executivo destaca a perda do valor de inventário no 4T23 com a provável redução de preço do combustível. “Essa volatilidade vai acontecer”, acrescentou.
Os seis primeiros meses do ano marcado por excesso de produtos no mercado afetou negativamente as margens da Ipiranga.
“No 3T23 foi de fato um cenário favorável, mas vamos lembrar que a gente veio de um primeiro semestre bem ruim, com perdas de inventários importantes, com muita oferta de produto, principalmente diesel”, ressaltou Leonardo Liden, presidente da Ipiranga.
O CEO também reclamou das empresas do setor fora da lei. “O principal ponto é que existe sim um pedaço desse modelo que não opera nas regras estabelecidas pelo governo”, disse o executivo, acrescentando, por conta desse cenário, o alto risco no negócio.
Raízen: Clima cria expectativa
A Raízen, operadora das redes de postos Shell e fabricante de etanol, fala em aumento de consumo do biocombustível, mas a inconstância do mercado preocupa.
Ricardo Musa, CEO da companhia, explicou que um dos motivos da volatilidade é a estratégia de precificação da Petrobras (PETR4). Outro fator apontado pela empresa é o cenário externo.
Por fim, a questão climática – no caso, o El Niño -, que tem potencial de retardar a colheita da cana. A empresa esclareceu na teleconferência de resultados do 3T23 que tem adotado medidas na plantação para mitigar os efeitos do fenômeno climático.
A empresa diz verificar aumento de consumo do etanol. “O diferencial de preço na bomba está em R$ 2 por litro (em relação à gasolina); é bastante alta”, afirmou Musa, apontando que a diferença, motivo que leva a escolha de um ou outro combustível pelo consumidor, é favorável atualmente ao etanol.