Tanque de armazenamento abandonado pode conter resíduos e causar explosão caso procedimentos de segurança não tenham sido realizados

Os esqueletos de postos de combustíveis desativados são uma fonte de perigo para a população de Campinas, principalmente por causa do risco de explosão.

 

O alerta é do engenheiro químico especializado em combustíveis Carlos Itsuo Yamamoto. Ele explica que a ameaça de acidente existe no caso de pequena quantidade de produto ter ficado armazenado nos tanques subterrâneos. “O grande risco de combustão é quanto aos gases, porque tanque cheio só explode em filme”, afirmou. “Tem que cuidar para que não haja nenhum vazamento no tanque, mas se ficar muito tempo abandonado ele pode furar”, alertou. Em um percurso de uma hora, a reportagem do Correio Popular identificou cinco estabelecimentos abandonados.

ANP interdita um posto a cada 45 dias em Campinas

Os postos foram fechados após terem as bombas lacradas pela fiscalização da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil (ANP). De acordo com Yamamoto, para evitar o risco, os tanques de armazenamento deveriam ser esvaziados e lavados, mas não há garantia que esses procedimentos de segurança foram realizados. “Um tanque abandonado, com pouco combustível, pode sofrer atrito. Se alguém joga pedras nele, já há risco”, completou o engenheiro químico. “Para que haja combustão deve haver um fator de ignição, que pode ser até um telefone celular”, completou.

No ano passado, a ANP interditou oito postos de combustíveis em Campinas, média de um a cada 45 dias e o equivalente a metade do total de 16 estabelecimentos fechados na Região Metropolitana. Nem todos deixaram de funcionar, com alguns mantendo as operações depois das irregularidades sanadas, mas os esqueletos são facilmente encontrados no cenário urbano. Uma estrutura abandonada está localizada na Rua Irmã Serafina, no Centro, onde tampas de monitoramento dos tanques foram arrancadas, o que deixa as válvulas de inspeção expostas.

Elas estão cobertas por sujeira, como terra, folhas e copos plásticos. O posto está cercado apenas por correntes, o que facilita o acesso. Carros deixados no local revelam que, durante o dia, o espaço é usado como estacionamento. Porém, o mau cheiro no local revela que pessoas em situação de rua utilizam a área para passar a noite.

OUTRAS SITUAÇÕES

Entre 2021 e 2022, o posto foi autuado duas vezes pela ANP, deixando de funcionar logo após a última fiscalização. Entre as irregularidades encontradas estavam venda de combustíveis fora das especificações, preço anunciado nas placas diferente do cobrado nas bombas e distinção entre o que marcava o equipamento e o que de fato era colocado no carro. O vendedor Adilson Ferreira Vitor, que trabalha em uma loja nas proximidades, disse que o posto abandonado traz outros riscos. “Mulheres já entraram na loja com medo de serem abordada por quem está no posto. Ninguém gosta de ser incomodado com o pedido de esmolas. O local também é frequentado por usuários de drogas à noite, mas eles são tranquilos.”

Um posto no Castelo, fechado há um ano após ser lacrado por venda de combustível adulterado, traz outros riscos. Placas de metal usadas como tapume soltas mostram que o local também é usado por pessoas em situação de rua. O antigo posto está cheio de lixo acumulado, como latas de alumínio, garrafas e sacos plásticos em um período que Campinas enfrenta a sua pior epidemia de dengue, com 86.814 casos confirmados e 23 mortes registrados até ontem. Esses recipientes podem acumular água e servirem de criadouro para o mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. “Vejo pessoas entrando e saindo daí de manhã”, contou o autônomo Juan Ricardo dos Santos, que trabalha perto.

Não existe um balanço de quantos postos estão fechados na cidade, mas os exemplos se espalham, como na Rua Leonardo da Vinci, no Jardim Bela Vista; Rua Alberto Faria, no Jardim Brasil; e Avenida Brasil, no mesmo bairro. No primeiro e no último foram constatadas irregularidades pela ANP.

No Bela Vista, os fiscais da agência encontraram bombas com os lacres violados e diferenças entre o volume de combustível registrado na bomba e o efetivamente abastecido. O posto da Avenida Brasil foi fechado após ser lacrado em julho passado, quando a fiscalização constatou a venda clandestina de metanol, que tem a comercialização proibida no país, e problemas nas placas eletrônicas das bombas.

O estabelecimento está cercado por alambrado e sem as bombas, mas o filtro de óleo diesel ainda está no local. Os tapumes metálicos que cercam outros postos estão pichados e há outros sinais de abandono. Na unidade da Alberto Faria, onde o motivo do fechamento é desconhecido, uma parte do teto da cobertura caiu. Além de Campinas, outras cinco cidades da RMC tiveram estabelecimentos lacrados pela ANP no passado – Americana (3 postos), Cosmópolis (1), Hortolândia (2), Jaguariúna (1) e Santa Bárbara d’Oeste (1).

QUALIDADE 

As irregularidades que acarretam em interdição, punição máxima aplicada pela Agência Nacional do Petróleo, podem dar origem ainda a multas que variam de R$ 25 mil a R$ 5 milhões, valor definido após processo administrativo. Os proprietários respondem ainda a inquérito policial por crimes contra a ordem tributária, econômica e de consumo, com a pena indo de dois a cinco anos de prisão.

Em 2023, a ANP também emitiu 80 autos de infração contra revendedores de combustíveis da Região Metropolitana de Campinas, o que correspondeu a 8,03% das 996 multas registradas no Estado de São Paulo. De acordo com o órgão, a principal irregularidade encontrada, que representou 34% das autuações, foi a comercialização de produtos fora das especificações. Entre as outras falhas verificadas estão o descumprimento de notificações (14,1%), equipamento ausente ou em desacordo com a legislação (13,9%) e não prestar informações ao consumidor (10,9%).

Esse quadro leva os clientes a desconfiarem da qualidade do combustível comercializado. “Tem poucos postos em que confio. Tem dois ou três em que abasteço sem me preocupar”, revelou o prestador de serviço por aplicativo Ronnie Von dos Santos. De acordo com o mecânico Adriel Vasconcelos Ferras Brenelli dos Santos, abastecer com combustível adulterado pode trazer problemas sérios para os veículos. “Um cliente abasteceu em um posto que agora está fechado e a bomba de combustível queimou logo depois. Ele chegou na oficina com o carro falhando e não ligou mais. Tivemos que empurrar o carro para dentro”, contou ele que tem uma oficina mecânica a cerca de 2 quilômetros do estabelecimento lacrado. “A gasolina corroeu a tinta que reveste o tanque de combustível. Virou uma gosma que queimou a bomba”, explicou.

Outros problemas que podem ocorrer, acrescentou, são no bico injetor de combustível e no catalisador. Somente essa última peça custa R$ 1,3 mil.

Adriel Brenelli também já teve problemas com combustível adulterado. “Fui levar minha filha à escola e precisei abastecer porque estava na reserva. O carro começou a falhar logo que saí do posto”, disse o mecânico. Além desse problema, queimou a sonda lambda, um dos sensores mais importantes do sistema de injeção dos veículos. Ela reconhece a composição da mistura ar/ combustível para controlar a quantidade injetada e garantir uma composição otimizada.

“Está difícil confiar na gasolina vendida em Campinas”, lamentou o mecânico. Como consumidor, Adriel Brenelli adotou o cuidado de sempre abastecer no mesmo posto, sem se incomodar em pagar mais caro. “Compensa, o carro rende mais”, concluiu.

Escrito por: Edimarcio A. Monteiro

Fonte: correio.rac.com.b

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