Segundo especialistas, empresários vêm abrindo mão de operar com marcas com BR, Ipiranga e Raízen
Quase mil novos postos de combustíveis abriram no ano passado no Brasil sem ostentar marcas como BR, Ipiranga, Raízen ou AleSat em suas fachadas. Chamados de “bandeira branca”, eles passaram de 16.171 para 17.134 nos dois últimos anos, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Com isso, passaram de 39,8% para 41,1% do mercado total no país. Para especialistas, no entando, esse movimento deve crescer neste ano devido à crise econômica.
Na avalição de Maria Aparecida Siuffo Schneider, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência do Município do Rio (Sindicomb), o aumento no número de postos de bandeira branca é reflexo da atual crise econômica. Isso porque, diz ela, muitos donos de postos decidiram abrir mão de alguma marca para ter maior flexibilidade de preços.
As vendas de combustíveis estão em queda. Então, muitos donos de postos que estavam representando uma marca específica decidiram abrir mão e não ter mais marca, passando a ser bandeira branca. Com isso, conseguem comprar combustível de qualquer distribuidora e ter custos menores. Quando se tem contrato com uma marca específica, só se pode vender combustível daquela marca – explicou Maria Aparecida.
QUEDA NA VENDA DE COMBUSTÍVEIS
No ano passado, as vendas de combustíveis, por exemplo, tiveram queda de 4,5% no Brasil. Mas, segundo especialistas, parte dos postos de bandeira branca também está associada a irregularidades na venda de gasolina, diesel e etanol. Os problemas, no entanto, também fazem parte dos postos com bandeira, advertem especialistas, embora em menor escala. Segundo a ANP, as infrações mais comuns são, além de combustível adulterado, falta de informação de preços, produtos com prazo de validade vencido, falta de informação de validade e e publicidade enganosa.
O problema de gasolina adulterada independente da bandeira. É a questão da honestidade – disse Maria Aparecida.
O professor Luiz Maurício Janela, professor dos MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que a percepção de qualidade por parte do consumidor é menor no caso dos postos de bandeira branca. Mas ele faz questão de ressaltar que isso não significa que o combustível não tenha qualidade.
– O aumento dos postos sem marca é uma tendência. No Brasil há poucas opções. Além da BR e Raízen, tem a AleSat e a Ipiranga que estão se juntando. Então haverá apenas três grandes marcas. Além das poucas opções no mercado, o empresário dono de posto tem buscado melhores contratos por conta da crise. Com isso, apesar de abrirem mão da credibilidade da marca, ganham flexibilização de negociação a cada contrato fechado – disse Janela.
REGIÃO NORDESTE TEM MAIOR QUANTIDADE DE BANDEIRA BRANCA
Na região Sudeste, 41% dos 16.3362 postos são de bandeira branca. Na sequência, aparecem BR (19,8%), Raízen (16%) e Ipiranga (15,6%). Porém, os postos de bandeira branca são mais volumosos no Nordeste, onde respondem por 49,4% do total dos 10.332 postos. Na região, a BR tem 17,7% de participação de mercado, seguido da Raízen (7,5%).
No Centro-Oeste, os postos sem marcas são 45,4% do total de 3.637 postos, com a BR tendo 22,8% dos postos, seguido de Ipiranga (9,6%) e Raízen (7,9%). No Sul e no Norte, a bandeira branca está baixo da média nacional, com 29,4% e 39,7%, respectivamente.
SOBE NÚMERO DE AUTUAÇÕES EM POSTOS
No ano passado, o número de autuações da ANP subiu 29%, passando de 266 para 344 entre 2015 e 2016. A maior parte delas está relacionada a estoques de combustíveis, como etanol e inadimplência e comercialização indevida. Procurada, a ANP não informa quais dessas notificações são relativas aos postos de bandeira branca.
– O aumento de postos de bandeira branca é perigoso, pois significa que as grandes marcas não estão conseguindo fazer seu trabalho de expansão bem feito. Por isso, vem perdendo espaço. E a tendência para 2017 é de queda de espaço das grandes marcas, sobretudo em cidades menores e no interior. O problema é que a maior empresa do setor, a BR, vem sendo afetada pela crise financeira da Petrobras – disse um analista que não quis se identificar.
Nos dois últimos dois anos, a BR Distribuidora viu sua fatia de mercado cair de 27,72% para 25,39%, pelos dados da ANP. A empresa é um dos principais ativos que a Petrobras tenta buscar sócios para fortalecer seu caixa. Porém, o negócio está suspenso por determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), que apontou irregularidades no processo
Fonte: http://oglobo.globo.com