O representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da BR, Bruno Paiva, defende que a melhor saída para a subsidiária da Petrobras é o lançamento de ações em Bolsa (IPO, na sigla em inglês), no lugar da venda do controle a um novo sócio. O técnico, que está no quadro da empresa desde 2003, avalia que há risco de a empresa ser vendida por montante mais baixo que o seu valor.

Qual é o melhor caminho para a BR neste momento?

Com certeza, um IPO. Tem a vantagem de trazer dinheiro para o caixa da Petrobras logo, talvez ainda em 2017. E pode ser feito de forma escalonada.

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Existe condição de fazer um IPO vantajoso?

Sim. Temos o exemplo da Siemens. Ela também teve um escândalo de corrupção no passado e, hoje, é exemplo de governança e transparência. A Petrobras já recuperou parte de sua imagem. A empresa tem um vínculo grande com a população. Quando a gente começa a mostrar que está trabalhando para acabar com a corrupção, a melhora da imagem ocorre muito rápido. O momento que o país passa também ajuda, porque a gente está fazendo uma limpeza.

Mas o plano da Petrobras é encontrar um sócio…

Sou contra a venda porque, no formato que estão modelando hoje, no cenário atual do país, isso não vai atender ao interesse público da empresa. Antes de pensar num desinvestimento de determinadas empresas do sistema Petrobras, a gente precisaria primeiro estruturar o país em ativos logísticos, pensar no escoamento da produção das refinarias, em dutos, ferrovias, melhorar a estrutura portuária e as estradas. Ter um ambiente regulatório que estimule a concorrência. Antes disso, a gente vai acabar trocando um monopólio público por um privado.

E quais seriam as consequências disso?

O país não está preparado para enfrentar um mercado tão concentrado nas mãos de poucos operadores privados. Já vimos que a política de campeões nacionais não funcionou muito bem.

Mas qual é o modelo de venda que será usado para a BR?

O plano de desinvestimento não tem um modelo fechado. O que temos é o modelo de julho de 2016, que seria vender uma participação minoritária no capital total da companhia. Ele seria dividido entre ações preferenciais (sem direito a voto) e ordinárias (com voto). A Petrobras seria majoritária nas preferenciais e o novo sócio, nas ordinárias. Assim, a empresa deixaria de ser estatal e a Petrobras, sendo majoritária nas ações preferenciais, receberia mais dividendos dessa nova BR.

A Petrobras não poderia negociar um acordo de acionistas que preserve a concorrência?

Sim. A gente imagina que a Petrobras vai fazer um acordo de acionistas, que deve ter algum tipo de acerto para que a BR continue comprando combustível da Petrobras. Mas o mercado mundial de combustível está mudando e, cada vez mais, as refinarias estrangeiras são maiores, mais eficientes e mais agressivas quanto à exportação. Elas teriam acesso à BR e poderiam impactar o refino e o suprimento. A Petrobras poderia colocar uma cláusula que impedisse esse tipo de negociação. Mas seria bem provável que um minoritário conseguisse, via arbitragem, buscar o equilíbrio do contrato, permitindo que a empresa comprasse de quem quisesse. Essa cláusula também daria uma redução no preço. A Petrobras pode ter de vender a BR por menos do que a empresa vale.

Qual seria o horizonte para a venda da BR hoje?

O processo de venda de ativos é demorado. A conclusão do negócio pode levar de um a dois anos, principalmente com essa orientação do Tribunal de Contas da União. É preciso aprovar o projeto, o modelo de negociação, montar um teaser (alerta), comunicar o mercado, esperar os interessados, marcar propostas não vinculantes. Depois vêm as propostas vinculantes e a negociação. Depois passa para aprovação e fechamento. O TCU também disse que após o processo, a Secretaria de Controle Externo pode fazer mais uma análise individualmente. Ou seja, depois de tudo isso pode voltar para o TCU. Nessa brincadeira, o horizonte pode chegar a três, quatro anos ou mais. Ou seja, provavelmente na atual gestão eles não conseguem fechar a venda.

Como a crise afeta a BR?

Primeiro, a crise política trava a economia e os investimentos. Uma empresa como a Petrobras tem como principal cliente a indústria. Se ela não se desenvolve, não investe, e a Petrobras não tem para quem vender.

Após a Lava-Jato, que empresa está sendo oferecida ao mercado agora?

Não tem como negar que essa crise afetou tanto a BR quanto a Petrobras. Certamente vai se entregar uma empresa afetada pela corrupção, mas certamente quem comprar vai ver o potencial, e e isso deve ser um ganho muito grande.

Quanto a BR encolheu?

Ela sofreu impacto da queda do PIB e dos escândalos da Lava-Jato. A gente reduziu nossa participação de mercado em 11%. Tínhamos 34% e isso caiu para 30% agora. Cada ponto percentual (de market share) equivale a R$ 1 bilhão. A BR chegou a ter 35% de market share, e nosso plano de negócios prevê voltar a 34%. Hoje, estamos com 29%, 30%. Mas ela não seria vendida por isso, até porque teríamos que descontar a dívida, que está no balanço, e é de R$ 9 bilhões. Eles teriam que ser descontados nos R$ 30 bilhões. Ou seja, esses valor pode virar R$ 20 bilhões.

As Lojas Americanas estão interessadas na BR. Faz sentido?

Faz. A estratégia dessas empresas é investir pesado em loja de conveniência. Eles têm um ganho logístico porque têm maior participação no mercado. Para a BR é importante ter uma loja dentro dos postos. São quase 1.500 lojas que atraem movimento para o posto.

Fonte: extra.globo.com/

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