Diante de projeções oficiais de que as vendas de gasolina e etanol só voltem ao patamar pré-crise em 2022 na melhor das hipóteses, e de que o mercado de diesel obtenha essa paridade com 2019 apenas no ano que vem, o setor de combustíveis do Brasil deve se preparar para um tempo de muita incerteza e volatilidade de preços.

Mas a abertura do mercado, incluindo um processo de venda de refinarias pela Petrobras  e a chegada de novos investidores, deve seguir seu curso, ainda que a crise possa atrasar a velocidade das mudanças, disse a presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), Clarissa Lins.

O setor viu quedas de 50% no consumo de diesel, 65% na gasolina e 75% em etanol nos piores momentos da crise, e o mercado melhorou significativamente com a reversão de muitas medidas de isolamento. Mas ainda há um longo caminho para percorrer até que o país possa voltar a vender os mesmos níveis de 2019, e ainda há nesta equação o imponderável, que diz respeito, por exemplo, aos hábitos da população e seus deslocamentos.

Estamos observando o comportamento do consumidor. Ainda que levantem as medidas de isolamento, a gente ainda não sabe exatamente qual será o comportamento do consumidor em termos de deslocamento e de opções de transporte. Esses são fatores que temos de olhar com muito cuidado”, disse Clarissa Lins, eleita conselheira da recém-criada Associação Brasileira de Downstream (ABD), que nasceu dentro do IBP para abrigar empresas da logística de distribuição e futuros refinadores, além da Petrobras.

A dirigente do IBP citou alguns cenários traçados pela estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que indicam queda de no mínimo 2,4% no consumo de diesel em 2020 ante 2019, e de no máximo 8%, enquanto nos combustíveis do ciclo Otto (etanol e gasolina) os recuos este ano seriam entre 8% e 17%.

No melhor cenário da EPE, o ciclo Otto voltaria a ter consumo de 54,7 bilhões de litros em 2022, no pior seguiria amargando queda de mais de 10% nos próximos dois anos.

Para o diesel, o combustível mais consumido do país, no melhor cenário haveria crescimento até 2022 ante os níveis pré-pandemia, e no pior uma leve redução, disse a conselheira da ABD, também é integrada por representantes da BR Distribuidora, Raízen, Ipiranga, Braskem e Transpetro, entre outras.

As principais variáveis são o período de distanciamento social, se tiver uma segunda onda de contágio… Mas além disso tem a reação do consumidor… será que continuaremos optando por trabalhar remotamente, será que vamos continuar optando por comércio digital e entregas domiciliares?”, ponderou.

Ela comentou, por outro lado, que o mercado de combustíveis “responde muito rápido aos movimentos”, no caso de uma retomada dos deslocamentos, assim como costuma acompanhar a economia.

“O que se deve esperar é mais volatilidade, vai ter um mercado respondendo a movimentos de reaberturas e retração de maneira instantânea.”

Abertura

A pandemia pegou o setor em momento de mudança, com a Petrobras em processo de venda de oito de suas refinarias, um desinvestimento que deve envolver cerca de metade da capacidade de refino do Brasil.

Mas a presidente do IBP não acredita em retrocesso nesse processo, ainda que o ritmo dos desinvestimentos da estatal possa ser atrasado.

A direção dessa mudança está dada. A velocidade da implementação das mudanças pode sofrer impacto da crise econômica… A Petrobras não interrompeu o processo e os interessados continuam analisando”, disse ela, destacando que o mercado no Brasil é enorme, o nono do mundo, com cerca de 2,4 milhões de barris/dia.

“O tamanho do nosso mercado é a grande âncora dessa abertura.”

Desde que a Petrobras passou a adotar preços de mercado para os combustíveis, já há dois governos, isso ajudou a atrair mais investidores, não somente em refino, mas também em distribuição, infraestrutura e logística –algo que poderia ser ampliado com uma simplificação tributária que possa evitar sonegação, defendeu a presidente do IBP.

Fonte: Moneytimes

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