Com a eletrificação dos veículos, as fábricas de motores a combustão começam a desaparecer.

Mas no Brasil, pelo menos durante alguns anos, essa tendência deve seguir o caminho inverso.

Com a eletrificação dos veículos, as fábricas de motores a combustão começam a desaparecer. Mas no Brasil, pelo menos durante alguns anos, essa tendência deve seguir o caminho inverso.

Como esse tipo de motor é cada vez menos usado em mercados desenvolvidos, o Brasil, que há décadas domina esse tipo de manufatura, começa a abastecer fábricas de países que ainda produzem veículos movidos a combustíveis fósseis. Linhas brasileiras de três montadoras – General Motors, Toyota e Stellantis – já atendem a contratos da Europa e dos Estados Unidos.

Trata-se de uma triste herança sob a ótica de que esse movimento é mais um indicativo do quanto o Brasil está, ainda, distante, do processo global de eletrificação. Por outro lado, com isso, a atividade na indústria automotiva brasileira ganha fôlego, enquanto o país não define qual estratégia de energia limpa adotará e como vai inserir sua indústria de veículos nesse processo.

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Indústria de autopeças

As vantagens surgem não apenas para os fabricantes de veículos, que são também os produtores dos motores, mas também para a indústria de autopeças, que produz os componentes de motores e todo o sistema que envolve esse tipo de força nos veículos.

Na semana passada, a General Motors anunciou a criação do terceiro turno na fábrica de motores em Joinville (SC). O aumento da capacidade de produção em 30%, a partir de novembro, é necessário, segundo a empresa, para abastecer a linha da picape Nova Montana, em São Caetano do Sul (SP), e também para atender à entrada de pedidos de exportação. Com a medida, a fábrica catarinense, que teve a área quadruplicada há cinco anos, vai abrir 130 novos postos de trabalho, elevando o efetivo para 762 trabalhadores.

Em setembro, a Toyota também começou a exportar para os Estados Unidos motores produzidos na fábrica de Porto Feliz (SP). O contrato, prevê o envio de motores do tipo 2.0 litros para fábricas da Toyota instaladas no mercado americano. Com a nova demanda de exportação, a montadora japonesa aumentou o ritmo de produção em Porto Feliz em 30%, o que exigiu a abertura de mais 150 postos de trabalho, ampliando o efetivo em 38%. A fábrica de motores, que passou a operar 24 horas por dia, é vizinha da unidade que produz veículos Toyota em Sorocaba.

Outro exemplo desse potencial exportador fica em Campo Largo (PR). Há mais de dez anos, a Fiat comprou uma fábrica que havia sido erguida a partir de uma parceria que não deu certo, entre Chrysler e BMW. Na época da frustrada parceria, no Paraná, já eram produzidos motores usados em vários modelos produzidos em outros países, inclusive o Mini.

Com a criação da Stellantis, montadora que nasceu no início de 2021 a partir da fusão de Fiat, Chrysler, Peugeot e Citroën, a fábrica paranaense passou a abastecer as linhas de veículos com motores 1.8 dessas marcas não apenas no Brasil, como também fábricas do grupo na Turquia.

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Argentina

A vocação para a exportação de componentes para veículos a combustão não se limita ao Brasil. Em Córdoba, na Argentina, a Volkswagen tem uma fábrica de caixas de câmbio manual que há alguns anos destina a outros países praticamente 100% da produção. Na lista dos contratos dessa unidade, estão Estados Unidos, Alemanha, Espanha, República Tcheca e Índia, entre outros.

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O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea), Márcio de Lima Leite, acredita que os veículos a combustão vão equivaler a um terço do mercado mundial pelo menos nos próximos dez, 15 ou até 20 anos. “Temos, de fato, uma oportunidade. Com as inaugurações de linhas de carros elétricos, as de motores a combustão são descontinuadas na América do Norte e Europa. As montadoras no Brasil, assim como a cadeia de fornecedores locais, podem fornecer motores a combustão com baixos níveis de emissões”, destaca.

Apesar do entusiasmo com a exportação, atrasos no transporte marítimo têm trazido preocupações na indústria automobilística. Segundo Lima, três navios deixaram de seguir a rota estabelecida no mês passado, o que atrasou o embarque entre 10 mil e 15 mil veículos.

O problema surge num momento de demanda externa aquecida, apesar das dificuldades na Argentina, principal mercado externo. Em setembro, as exportações totais das montadoras somaram US$ 767,1 milhões, 20,9% mais do que há um ano. No acumulado do ano, a receita já soma US$ 7,5 bilhões, um aumento de 37,3%.

O restabelecimento, em parte, do suprimento de semicondutores tem ajudado o setor a normalizar o ritmo de produção. Em setembro, foram produzidos 207,8 mil veículos no Brasil, uma alta de 19,3% na comparação com o mesmo mês em 2021. No acumulado do ano, a produção somou 1,75 milhão de veículos, 6,3% mais do que nos sete primeiros meses do ano passado.

Escassez de semicondutores

No mercado interno, o ritmo no licenciamento de veículos continua em ascensão e entusiasma os fabricantes. Em setembro, a média diária de emplacamentos ficou em 9,2 mil unidades. Foi o oitavo mês consecutivo de alta na média diária de vendas. No mês passado, foram vendidos 194 mil veículos, alta de 25,1% na comparação com o mesmo mês de 2021.

No mercado doméstico, Leite demonstra, no entanto, preocupação em relação às restrições ao crédito. Segundo ele, não há, ainda, como calcular a extensão do fôlego do atual ritmo de vendas, que se refere, sobretudo, a uma demanda reprimida pelo longo período de escassez de semicondutores, um problema que, segundo ele, de forma menos intensa, deverá se estender até a primeira metade de 2023.

Fonte: Valor Econômico

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