Evento promovido pela Agência Nacional do Petróleo teve troca de acusações entre revendedores e representantes da indústria
Integrantes dos setores de distribuição e revenda de combustíveis tiveram nesta quarta-feira (28/4) um debate acirrado com representante da indústria de biodiesel, com trocas de acusações que expõem um racha em momento em que o Brasil discute a adoção de novos combustíveis renováveis para colaborar com a descarbonização da matriz energética.
Enquanto revendedores apontaram, em evento da reguladora do setor ANP, o que consideram como problemas na qualidade do biodiesel e de uma mistura maior no diesel –que afetariam tanto os motores dos veículos quanto os tanques nos postos de combustíveis–, o representante da indústria do biocombustível afirmou que o produto sai dentro das especificações das fábricas e sugeriu maior fiscalização no processo de distribuição até os postos.
Ao responder apontamento feito pelo presidente do Sindicato Nacional Transportador Revendedor (SindTRR), Alvaro Faria, de que o biodiesel “se deteriora com o tempo” em um tanque, o presidente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Juan Diego Ferrés, recomendou que as empresas que trabalham com combustíveis usem equipamentos que garantam a qualidade, como filtros e outros que retiram a água formada no combustível.
A sugestão foi repelida por reação de Faria de que o setor de biodiesel deveria então assumir esses custos com os equipamentos.
Quando o diesel é misturado ao biodiesel, cuidados mais rigorosos são exigidos para evitar acúmulo de água no tanque, porque o biocombustível apresenta maior higroscopicidade (propensão a absorver água) e biodegradabilidade (degradação por ação de microrganismos), apontam técnicos.
A água no fundo do tanque gera borras, além de prejudicar o funcionamento dos motores, contribuindo também para causar corrosão. Por isso é tão importante o controle da umidade, que pode surgir por diversos motivos, no manuseio do produto, antes mesmo da mistura do biodiesel.
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Para José Alberto Gouveia, presidente do Sincopetro, que reúne varejistas de derivados de petróleo do Estado de São Paulo, o setor de biodiesel deveria “achar solução” e assumir responsabilidades.
Ferrés, da Ubrabio, disse que o setor sugeriu a implantação de um sistema de monitoramento, “sem grandes custos” para toda a cadeia, que poderia evitar problemas. Ele reiterou, contudo, que o biodiesel é fiscalizado, antes de ser embarcado, pela ANP, afirmando ainda que isso não acontece no segmento de distribuição.
“O setor de biodiesel está disposto a investir junto. Estamos sugerindo um sistema para dar a nossa colaboração de como isso (monitoramento) pode ser feito sem grandes custos”.
De outro lado, Gouveia, do Sincopetro, afirmou que os consumidores de diesel têm responsabilizado os postos de combustíveis pelos problemas gerados aos veículos e que realizar a limpeza de um tanque também traz prejuízos aos revendedores.
O representante da ANP Jackson Albuquerque, que estava mediando as discussões, disse que a reguladora está acompanhando o tema e tomando medidas para “encontrar o melhor caminho”.
Mistura maior
A discussão se acirra em momento em que o diesel tem recebido uma mistura maior –o “blend” com biodiesel tem sido elevado ano a ano no Brasil.
Em março, a mistura obrigatória subiu de 12% para 13%, e há a perspectiva de que chegue a 15% em 2023, o que aumentou as queixas do setor de comercialização.
Para Paulo Miranda, da federação nacional dos revendedores (Fecombustíveis), uma mistura de até 7% de biodiesel no diesel seria o “ideal”.
“A partir de 7% os problema se agravaram, e isso acontece todos os dias nos postos, é uma reclamação generalizada…”, afirmou ele, fazendo coro com debatedores que citaram estudos da Anfavea que mostram problemas de uma mistura maior aos motores.
Já o presidente da Ubrabio avaliou que o “problema de filtrabilidade reside mais no diesel fóssil do que propriamente no biodiesel” e citou estudos que apontam que o aumento gradativo da mistura não é um fator para a questão da qualidade.
Ele ainda disse que o diesel S-500, que ainda responde por boa parte do volume vendido no Brasil, teria 50 vezes mais enxofre que o S-10. Para Ferrés, há “um claro efeito” do tipo de diesel no total de resíduos, e com o S-500, “há mais que o dobro de resíduos”.
Fonte: https://revistagloborural.globo.com/