Imagine ver no celular a qualidade do etanol combustível do posto mais próximo antes de parar para abastecer. Há uma tarefa fácil e outra difícil para isso se tornar realidade. A fácil é a criação de aplicativos. A mais difícil é desenvolver sensores de alta tecnologia que possam ser instalados nas bombas de combustível e sejam ligados à internet. Esta última pesquisadores brasileiros fizeram.
Uma plaquinha do tamanho de um dedo, feita de circuitos compostos por nanomateriais (tão pequenos que possuem as dimensões de átomos e moléculas). Ao ser imerso em solução com etanol, realiza a leitura da pureza da substância e emite um sinal elétrico, que vira uma mensagem na bomba, na tela do celular ou na internet. Assim é o dispositivo que pode deixar nossas cidades mais inteligentes.
“No futuro, cada veículo poderá ter um sensor, o posto ter um, a usina ter um. As pessoas não falam da importância do controle da carne? Para o etanol é a mesma coisa”, diz o físico Carlos Cesar Bof Bufon, que liderou a equipe do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais).
Para criar o sensor, uma equipe com engenheiros, físicos e químicos trabalhou durante três anos no LNNano (Laboratório Nacional de Nanotecnologia), em Campinas (SP). O laboratório é ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. A tecnologia foi patenteada no Brasil e a patente internacional já foi requerida.
A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) determina que o etanol combustível precisa ter pelo menos 94,5% de pureza para ser comercializado. O combustível adulterado pode causar danos sérios ao automóvel. A adulteração é ilegal, mas bastante comum. A venda de etanol fora das especificações da ANP causa a formação de gomas internas no motor.
Além da fraude, a estocagem do combustível por longo período também pode causar problemas.
“Cidade inteligente está ligada ao controle, segurança, qualidade de serviço. Aplicamos isso ao contexto brasileiro”, afirma Bufon. Criado para o etanol, o sensor poderá ser adaptado futuramente para outros combustíveis. “O caminho tecnológico está aberto”, completa.
Atualmente, o único instrumento existente para avaliar a qualidade do etanol é o densímetro, que mede a densidade de líquidos. O uso dele, contudo, depende de um operador para realizar as leituras, algo que impede a automação.
Segundo Bufon, o dispositivo brasileiro também permite leitura rápida, que pode chegar a alguns segundos, e custaria entre R$ 20 e R$ 40 por sensor. O pesquisador diz que já há empresas do ramo de produção e distribuição de combustível interessadas em utilizar a tecnologia.
Ao valor de produção do sensor, deve ser acrescentado custo de desenvolvimento do aparelho, que é o pagamento ao laboratório pela invenção da tecnologia de ponta. Considerando isso, o custo estimado de desenvolvimento da versão mais simples do dispositivo pela indústria está entre R$ 100 e R$ 150 a unidade.
Fonte: Fonte: UOL