A guerra pública entre os bancos e as chamadas maquininhas independentes, como Stone e PagSeguro, deflagrada pela possibilidade de o Banco Central vir a limitar o parcelamento sem juros do cartão de crédito e acabar com o rotativo, é uma chance sem precedentes para lojistas e consumidores de todo País enxergarem o que está oculto nas operações desse mercado trilionário no Brasil.

O que está em jogo por trás da disputa é o quanto os usuários do cartão de crédito pagam de juros para rolar a dívida do rotativo e também as taxas cobradas dos lojistas.

O verdadeiro pano de fundo são as operações das maquininhas independentes (aquelas que não têm por trás um banco) com a antecipação dos chamados recebíveis dos lojistas. Os recebíveis são créditos que os comerciantes têm a receber com as vendas feitas por meio de cartão de crédito.

Eles funcionam como um “empréstimo” para os lojistas feitos pelas maquininhas com uma taxa de juros e virou um grande negócio para as independentes, sem o risco da inadimplência, que fica com os bancos.

Quanto maior o número de parcelas, mais negócio é para as maquininhas, que ficam numa situação mais cômoda. Por isso, a resistência à limitação do parcelado sem juros.

Essa resistência parte também dos lojistas, sobretudo os pequenos e médios, que são altamente dependentes do dinheiro dos recebíveis antecipado pelas maquininhas. Esse grupo antecipa de 50% a 60% das suas vendas com cartão, enquanto que,nos grandes varejistas, gira entre 10% e 20%.

A temperatura vai aumentar porque o debate ganhou as ruas e, a depender do resultado, pode afetar a atividade econômica, já que o Brasil figura na lista dos seis países que mais usam cartão de crédito como instrumento de pagamento.

Aqui, 40% do consumo das famílias é pago com cartão de crédito.

Os bancos, que também têm suas maquininhas, como Cielo e Rede, puxaram a polêmica porque atribuem os juros altos do cartão e rotativo à inadimplência e ao risco que assumem com o parcelado sem juros, impulsionado pelas operações de recebíveis.

Dados de mercado consolidados pela Febraban nos estudos sobre as causas do juros do rotativo apontam que as maquininhas independentes cobram taxas de desconto maiores do que as maquininhas vinculadas a bancos. A diferença chega a ser 3,2 vezes superior, de acordo com os números.

O segundo dado que veio à tona nesse debate é que, sem a receita de recebíveis, as maquininhas independentes ficariam no vermelho, com prejuízo de R$ 1 bilhão no último ano.

É interesse de todos que esse debate seja cada vez maior e governo e Banco Central possam encontrar o melhor caminho para enfrentar o problema. Os consumidores e lojistas só têm a ganhar.

Fonte: Estado de São Paulo

 

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