É interessante refletir sobre os movimentos e rumos do mercado de conveniência no Brasil.
Sem dúvida, há muito espaço para expansão – segundo dados do último Anuário do setor, publicado pela Plural, as lojas estão presentes em apenas 20% dos nossos postos de serviços.
Essa participação é bem maior em outros países da América Latina, como a Argentina, Uruguai e Chile. Por um lado, o consumidor de hoje procura e gosta muito das nossas lojinhas – enxerga valor no nosso negócio. Pelo outro, o revendedor tem, nas lojas, outra fonte de receita, importante âncora, especialmente em períodos mais difíceis. Tudo a favor da multiplicação desse virtuoso formato de varejo. Há muito espaço para crescer.
Em 2018*, o faturamento do segmento de Conveniência, que fechou o ano com um total de 8.030 lojas, foi de R$ 7,54 bilhões. Apesar do cenário econômico do país nos últimos anos, o setor tem apresentado resultados positivos, diferente de alguns outros segmentos varejistas. Assim, isso é motivo de confiança na força do canal. Temos um grande potencial para sermos ainda maiores, uma vez que proporcionamos praticidade, comodidade e soluções rápidas ao consumidor. Na sua rotina atribulada, oferecemos produtos de qualidade em um ambiente confortável, agradável, seguro e simpático.
A conveniência vem se moldando ao longo da sua recente história no nosso mercado. No final dos anos 1980, quando as lojas dos postos chegaram por aqui, as gôndolas de minimercado representavam parte relevante nos seus layouts. A área para lanches, chamada de fast food, era bem reduzida, embora fosse também importante para esse novo formato de varejo, aberto 24 horas. Como oferta, havia basicamente cachorro quente, salgados, post mix de refrigerantes e café. O consumidor se servia e comia em pé, usando um pequeno balcão como apoio. O objetivo era que o cliente permanecesse pouco tempo na loja, por isso seu lanche tinha que ser rápido.
Nos anos 1990, a garotada frequentava as lojas, com entusiasmo. O grande barato era montar seu próprio hot dog, onda que conquistou crianças e adolescentes. Lembro que o meu saudoso amigo e mestre, Flavio Franceschetti, pioneiro na conveniência e meu primeiro chefe na Esso, se preocupava bastante em “investir” no público jovem, tratando-o com muito carinho. Fizemos vários eventos, campanhas e promoções focadas nesses clientes. Visionário que era, sabia do potencial do canal e de quem seria seu principal consumidor, no futuro.
Com o tempo, mudanças expressivas no mercado e no consumidor fizeram com que a conveniência se reinventasse. As gôndolas grandes com produtos de minimercado, cujos preços espantaram as donas de casa, deram seu espaço para mesas e cadeiras. A loja passou a ser um lugar para relaxar, comer e “recarregar as baterias”, dando uma pausa na correria rotineira. O fast food self service passou a ser food service, com ofertas bem mais aprimoradas, como sanduíches preparados na hora e cafés espressos. O balcão cresceu e ganhou atendentes. O mix de produtos foi reformulado, reduzindo-se o número de SKUs das categorias de giro e vendas baixos. Os equipamentos se diversificaram e se modernizaram.
Já se passaram duas décadas desde o início dessa transformação no canal e o Food Service continua evoluindo. Atualmente, ofertas de cafeterias gourmet, saladas e até refeições e sobremesas são servidas em lojas de conveniência. Produtos de alimentação saudável são foco no momento. O cliente, muitas vezes, é atraído pela rapidez e facilidade, sabendo que pode encontrar opções de qualidade para comer.
A concorrência é acirrada, não só entre as lojas dos postos, mas também com os mercados de proximidade, cadeias de fast food, cafeterias, padarias, entre outros. Para atuar e competir neste cenário, profissionalismo é fundamental. Operar bem, especialmente o Food Service, não é tarefa para amadores!
É importante ressaltar que o aprimoramento não é só em alimentação. O layout e o ambiente têm recebido investimento. Modernidade, conforto, iluminação diferenciada, comunicação visual competente, wi-fi – tudo para aumentar o período de permanência na loja e fidelizar o cliente.
O mix de produtos também vem sendo revisto – e isto é muito positivo. Itens para compras de reposição e emergência, que tradicionalmente fazem parte do sortimento das lojas, precisam permanecer nas gôndolas, afinal temos a missão de facilitar a vida corrida dos nossos clientes.
Por falar nos clientes, eles são hoje aqueles meninos e meninas que adoravam montar seus cachorros quentes com bastante molho cheddar nos anos 90. A garotada cresceu vendo as lojas de conveniência como um lugar especial, acolhedor e aconchegante, e hoje representa nosso público consumidor, adulto e “antenado”. O meu guru Franceschetti, como sempre, acertou em cheio em dar-lhes total atenção. Temos que fazer como ele fez: olhar à frente e prever. Para onde vamos?
Giselle Innecco Valdevez Castro, co-fundadora e sócia-diretora da Valsa – Valdevez e Santiago Assessoria Empresarial, tem mais de 20 anos de experiência no mercado de lojas de conveniência, com atuação no Brasil e na América Latina.
*Últimos dados divulgados.