A IMC, que opera a rede Frango Assado, Pizza Hut e KFC no país, negocia a venda de seus 18 postos de combustível, negócio com receita de quase R$ 300 milhões neste ano, até setembro.
O Valor apurou que já há interesse da Rede Duque, que avaliou o negócio em R$ 130 milhões, mas a companhia vem conversando com outros interessados, buscando melhor valor pelos ativos.
Segundo fontes, a busca seria por valor por posto na faixa de R$ 10 milhões, totalizando uma operação de R$ 180 milhões, dentro da estratégia de reforçar caixa, desalavancando a empresa, com a melhora de sua estrutura de capital e simplificação da carteira de suas marcas em operação.
Ainda haveria outro caminho possível, de a empresa aportar os ativos dos postos num acordo com algum operador, que colocaria o capital. Desde 2021, a IMC tem parceria com a Raízen, para instalar restaurantes nos postos Shell.
Em setembro, a IMC registrava um caixa de R$ 305 milhões, em linha com a dívida líquida de R$ 305 milhões, e índice de alavancagem em 2,5 vezes, leve redução de 0,2 sobre o trimestre anterior e 0,5 abaixo do limite de três vezes, estipulado pelos “covenants” no período. Covenants são indicadores financeiros que precisam ser respeitados, sob pena de antecipação de vencimentos de dívidas por parte de credores.
Caso as conversas de venda dos postos continuem avançando, a companhia pode reduzir a sua dívida líquida para pouco mais de R$ 100 milhões ao fim do ano, segundo expectativa de pessoas próximas à empresa.
A IMC vem se desfazendo de negócios há alguns meses, em parte por resultados abaixo do esperado e pela possibilidade de simplificar o negócio, investindo no “core” do grupo. Ao Valor , em agosto, Alexandre Santoro, CEO do grupo, disse que não há grande preocupação com o patamar de endividamento, mas no cenário de incertezas econômicas e juro alto, a entrada de novos recursos no caixa deixa a IMC mais “confortável”.
Faz parte desse movimento a possível venda da rede Olive Garden em 2023, apurou o Valor. A IMC considera vender boa parte de suas marcas, como Olive Garden, Batata Inglesa e Brunella, mantendo as marcas mais fortes como Frango Assado, Pizza Hut e KFC.
A IMC tem 562 lojas, entre próprias e franquias, no Brasil e no exterior.
No caso da Olive Garden, essa negociação deve ganhar mais força após o encerramento do processo de venda dos postos de gasolina e após a entrada de recursos de outras negociações já anunciadas.
Em 25 de agosto foi aprovada a venda integral de sua fatia na subsidiária indireta International Meal Company F&B Panamá para a Excelencia y Superación. Foram vendidos nove pontos e o direito de licenciamento da marca Carl´s Jr. no Panamá. A alienação foi concluída em 4 de outubro, com o recebimento de US$ 873 mil.
Depois disso, em 16 de setembro, foi firmado acordo com a Inflight Holdings Cayman para a venda de participação da subsidiária indireta IMC Caribbean Holding Corp., acionista de uma empresa que opera concessões em terminais do aeroporto internacional do Panamá, por US$ 40 milhões. A conclusão da venda está prevista para ocorrer nos próximos dias, apurou o Valor.
Uma eventual conclusão de venda dos postos pelo teto esperado, somado com a alienação no Panamá equivaleria a mais da metade do valor de mercado da empresa hoje (em cerca de R$ 640 milhões).
Procurada, a IMC informa, em nota, que “deu passos importantes na estratégia de simplificação do negócio com as recentes vendas das operações do Carl´s Jr e do Aeroporto no Panamá”. Informa que “a companhia segue analisando alternativas que contribuam para esta estratégia e afirma que no momento não há qualquer decisão em relação a venda de outros ativos de seu portfólio”. Após publicação da informação pelo Valor, nesta terça-feira, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) questionou a IMC, que confirmou que não há decisão tomada ainda. A venda de ativos faz parte de um acordo com debenturistas da IMC.
Limite de R$ 500 milhões
Em 10 de outubro, foi realizada a assembleia geral de debenturistas para aprovar um “waiver” (renúncia), autorizando a vendas de ativos da empresa até o limite de R$ 500 milhões pelo período de 18 meses, segundo notas explicativas do balanço do terceiro trimestre.
As negociações em andamento já seriam parte desse processo de definição desse limite de até R$ 500 milhões.
Como contrapartida, os debenturistas solicitaram algumas garantias. Entre elas, 42,5% do valor das vendas deve ser alocado em uma conta para ser utilizada apenas no pagamento de juros e amortização das debêntures.
Ainda foi garantido o pagamento de um percentual da vendas dos ativos acima de R$ 100 milhões e aumento do prêmio de resgate antecipado de 0,45% para 1,50% ao ano.
Também foi acertada a garantia de abstenção, até 31 de dezembro de 2023, de pagamento de dividendos aos acionistas e de redução de capital da emissora ou recompra de ações de sua própria emissão. E manter, temporariamente, a partir de 31 de março de 2023 até 31 de março de 2024, sua dívida bruta igual ou inferior a R$ 600 milhões.