Queda no consumo e aumento do preço dos combustíveis impactam operação
Quem percorre as principais ruas e avenidas de Rio Preto já deve ter notado a grande quantidade de postos de combustíveis que fecharam nos últimos meses e os espaços, antes movimentados por motoristas, se transformarem em vazios urbanos.
Especialistas atribuem o fechamento das empresas à queda do consumo de combustível durante alguns períodos da pandemia, e aos aumentos recorrentes de preço. Para eles, essa foi a pá de cal para um setor que já vivia em crise.
Segundo levantamento realizado pela reportagem do Diário, ao menos 11 revendedoras de combustíveis interromperam suas atividades na cidade desde o início da pandemia da Covid-19. Já a entidade que representa os donos de postos diz que o número pode ser maior, chegando a pelo menos 20 estabelecimentos.
Apesar do que pode ser constatado pelos motoristas, os números oficiais não demonstram essa realidade. Neste ano, a Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp) registrou o pedido de fechamento de apenas uma revendedora de combustível. No ano passado foram formalizadas duas baixas na cidade. Já em 2019, antes da crise econômica provocada pela pandemia do coronavírus, o município teve também uma empresa encerrada.
Segundo o consultor empresarial Valdecir Buosi, essa discrepância ocorre porque a empresa pode estar operacionalmente fechada, mas continuar com o CNPJ ativo. Ele diz que isso pode ocorrer por duas razões: a primeira é de que o empresário mantém a empresa aberta na espera de poder passar o ponto. Mas há aqueles que não conseguem arcar com as dívidas tributárias, necessárias para dar baixa em uma empresa.
“Para isso, é preciso quitar tudo. Em muitos casos, o empresário pede o parcelamento da dívida, e o CNPJ fica ativo até ela ser sanada”.
Dessa forma, a empresa pode parar de funcionar, mas administrativamente ela continua funcionando. Ainda segundo Buosi, o Programa de Aceleração Fiscal (Refis) permite o parcelamento de débitos em até 15 anos.
“As pessoas têm ideia de que posto de gasolina é um mar de dinheiro, mas a margem de lucratividade de um posto é muito pequena e a carga tributária é muito grande”, afirma Roberto Uehara, presidente da regional de Rio Preto do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo (Sincopetro).
Ele diz que a pandemia contribuiu para enfraquecer o setor, mas outros fatores minaram as empresas, principalmente as de menor porte. Entre eles estão os inúmeros reajustes no preço dos combustíveis. No acumulado do ano, o diesel vendido pela Petrobras subiu cerca de 40% nas refinarias, enquanto a gasolina avançou 46%. O reajuste é passado para as distribuidoras, que aplicam o aumento no produto vendido para as revendedoras.
“Mesmo se vender todo o estoque as empresas não têm capital de giro para comprar o combustível mais caro. Além disso, quanto mais sobe o preço menos se vende e os bancos dificultam o acesso ao financiamento”, diz Uehara.
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O dono de um posto de combustíveis que fechou, que preferiu não se identificar, alega que decidiu encerrar as operações neste ano devido à dificuldade de negociar com as distribuidoras.
“Elas privilegiam as grandes redes de postos, é bastante difícil o diálogo”.
O empresário ainda diz que o custo operacional de uma revendedora é bastante grande e que, para sobreviver, é preciso vender muito. “Mas não é possível vender muito por conta do número excessivo de postos”.
De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), até o ano passado Rio Preto tinha 123 postos de combustíveis registrados no município. Em 2021, a cidade ganhou mais cinco empresas do ramo, segundo a Junta comercial do Estado. No ano passado houve um registro, enquanto em 2019 foram sete CNPJs abertos.
Segundo o economista da Faculdade de Administração e Economia (FEA) da USP, Luciano Nakabashi, o aumento na demanda por combustível nas últimas décadas, que contribuiu para o crescimento do lucro das revendedoras, atraiu empresários interessados em entrar nesse nicho, o que cooperou para deixar o mercado saturado. A competitividade por si só já contribuiu para deixar muitas empresas sensíveis.
Mas em períodos de recessão econômica, no qual as pessoas passaram a usar menos seus veículos, a demanda pelo produto cai. “Essa demanda menor faz com que os postos tenham prejuízo. Eles têm um custo fixo relevante e, no momento em que a receita fica abaixo do custo fixo, eles acabam saindo do mercado”.
Neste cenário, os postos que acabam se sobressaindo são aqueles que oferecem produtos agregados, como lojas de conveniência e padarias. Alguns possuem até galerias comerciais, diz Buosi. “A margem de lucro desses serviços é muito maior do que a da venda do combustível em si. Isso ajuda a custear a operação e tornar o negócio mais lucrativo e rentável”.
De acordo com o consultor, os estabelecimentos que não se adaptaram – muitos por não possuírem estrutura física para isso – acabaram sendo mais prejudicados. Mas cláusulas contratuais com as principais redes de combustível condicionam o dono do posto que queira abrir uma conveniência a investir em uma franquia da própria bandeira, diz o empresário.
“O único meio de escape que o revendedor tinha pra tentar fazer caixa eram as lojas, mas nem isso mais não se consegue. A cobrança das taxas de royalties e de publicidade acabam minando a sobrevivência do revendedor”.
Além das bombas
O fechamento dos estabelecimentos também mexe com o mercado de trabalho. Segundo o Sincopetro, um posto de combustível costuma ter entre dez e 30 funcionários, dependendo do porte.
Entre os profissionais, estão frentistas e atendentes dos postos de combustíveis. Em fevereiro de 2020 – ou seja, antes da pandemia -, o número de trabalhadores com carteira registrada que atuava no setor era de 1.516. Em maio deste ano, dado mais recente, o total de trabalhadores caiu para 1.364 – uma redução de 10%.
Rede investe em expansão
Apesar do momento de crise, a rede Monte Carlo continua em franca expansão. Somente neste ano, cinco unidades foram inauguradas em Rio Preto e a expectativa é de lançar mais duas até o final do ano. Nos últimos dois anos, a rede inaugurou 11 postos na região de Rio Preto sendo 8 em áreas urbanas e 3 em rodoviárias.
Ao todo, foram criados cerca de 930 empregos no período entre todas as unidades, afirma o diretor de operações da rede, Walter Gianini. Segundo o representante, cada unidade dentro da cidade exige um investimento em torno de R$ 10 milhões. Já nas rodovias, dependendo do tamanho da área escolhida, o investimento pode ser de 8 a 9 vezes maior.
Gianini destaca que o projeto de expansão da Rede conta com a participação de parceiros estratégicos, como grandes distribuidoras de combustível e marcas de alimentação como Frango Assado e Pizza Hut “além dos parceiros regionais das áreas de restaurantes, fast food, redes de farmácias, calçados e produtos automotivos”. Em breve, a rede deve anunciar parceria com outros restaurantes de expressão nacional.
“A expansão atual da Rede é fruto de muito trabalho e principalmente de um plano estruturado de profissionalização da empresa que começou a 5 anos atrás percebendo a tendência no setor de fortalecimento de grandes redes o que deu origem ao início de desenvolvimento de um novo modelo de empreendimentos com a proposta de prestar de serviços de excelência e gerar conveniências aos consumidores através da união de várias marcas de qualidade reunidas em complexos imobiliários modernos e atraentes”, finaliza.
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