A Petrobras deu o primeiro passo para se desfazer da fatia que ainda tem na BR Distribuidora e sair de vez do setor de distribuição de combustíveis no Brasil.
A empresa protocolou junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) o pedido de oferta pública secundária (follow on) para venda de sua participação de 37,5% na empresa, que é líder no segmento no país.
Em comunicado ao mercado, a empresa afirma que poderá levantar R$ 11,5 bilhões com a venda de 436,9 milhões de ações. Esse valor tem como referência a cotação dos papéis da última quarta-feira (R$ 26,42).
O preço final, no entanto, só será definido após a conclusão do procedimento de coleta de intenções de investimento a ser realizado com investidores institucionais, que detêm grandes lotes de ações, o que deve ocorrer no dia 30 de junho.
No Ibovespa, as ações subiram. As ordinárias da Petrobras (PETR3) avançaram 0,28% e as preferenciais (PETR4), 0,68%.Ainda assim, na avaliação de Luis Sales, estrategista-chefe da Guide Investimentos, o momento da operação é acertado. Para ele, o mercado espera a saída da Petrobras da BR para o papel “voltar a andar”:
— Com esse volume grande de ações voltando ao mercado, é difícil vender na máxima, porque acaba pressionando o preço e não gerando demanda também.
Postos manterão bandeira BR
A venda das ações da BR começarão no dia 2 de julho e, segundo a Petrobras, a operação deverá ser concluída até o dia 5 do mês que vem.
Mesmo com a venda, a bandeira BR será mantida nos postos de gasolina.
De acordo com a estatal, o contrato de licenciamento da marca é independente do negócio. A petrolífera continuará produzindo combustíveis por meio de suas refinarias e vendendo para as distribuidoras, inclusive a BR.
No exterior, a companhia também está em processo de se desfazer de suas redes de postos de gasolina. Hoje, ainda tem unidades na Colômbia, por meio da subsidiária Petrobras Colombia Combustibles (Pecoco).
A Petrobras vem de desfazendo de vários ativos com objetivo de reduzir sua dívida e focar investimentos na exploração do pré-sal.
A BR já foi alvo de duas operações em Bolsa. Na primeira, em 2018, a Petrobras levantou R$ 5 bilhões com a venda de 28,75% do capital da subsidiária. Na segunda, em 2019, foram vendidas 33,75% das ações, por pouco mais de R$ 9 bilhões.
Melhora da governança da BR
Com essa última, a Petrobras deixou de ser controladora da BR. A operação foi garantida por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que permitiu a venda de subsidiárias de estatais sem anuência do Congresso Nacional.
A intenção de vender a fatia de 37,5% anunciada ontem foi aprovada pelo conselho de administração da companhia em 2020, e a ideia era concluir a operação no início do ano, mas o processo foi atrasado pela conturbada troca no comando da Petrobras, com a demissão de Roberto Castello Branco.
Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro, o general Joaquim Silva e Luna assumiu em meados de abril, após debandada no Conselho de Administração e na diretoria da estatal, e havia dúvidas entre analistas se ele tocaria o programa de venda de ativos do antecessor.
Além das ações na BR, a Petrobras pretende vender ainda sua fatia na Gaspetro, por meio da qual tem participações em distribuidoras de gás, e refinarias. A Refinaria Landulpho Alves, em Salvador, foi vendida ao fundo Mubadala por US$ 1,6 bilhão. Outras sete estão à venda.
Para Sales, da Guide, a venda das refinarias serão a grande prova de fogo da Petrobras, por ser mais complexo. Ele avalia que a venda de ativos não estratégicos ajude a reduzir a dívida bruta e destrave a nova política de dividendos.
Com relação ao futuro da BR Distribuidora, Sales afirma que deve haver melhora na governança da companhia, com renovação no Conselho de Adminstração e na gestão:
— Já vemos isso acontecendo, mas isso (a venda da fatia remanescente da Petrobras) pode acelerar e ser bem positivo para a BR.
Fonte: O Globo