Os cartões de frota, utilizados tanto por caminhoneiros quanto por frotas de veículos leves, cobram taxas elevadas, além de tarifas fixas e prazos de pagamento que ultrapassam 40 dias. Em muitos casos, isso leva embora grande parte da margem da comercialização de combustíveis. Não é de hoje que a revenda questiona as taxas e práticas das empresas que oferecem cartões de frota ao mercado.
No entanto, nos últimos meses, algumas mudanças fizeram com que a situação se tornasse ainda mais crítica, comprometendo, em muitos casos, a margem da revenda.
O principal alvo das reclamações é a Ticket Log, empresa que faz parte do grupo francês Edenred – o qual também responde por outra marca do setor de fretes e frotas, a Repom.
Vale destacar que a Ticket Log é a empresa que foi formada após a Ticket ter incorporado a Good Card, que por sua vez, também já havia absorvido a CTF ou seja, o grupo domina boa parte do mercado de cartões frota.
Em função disso, acaba ficando mais fácil impor condições desvantajosas aos revendedores. “Sou cliente da Ticket há mais de 30 anos“, destacou um revendedor paulista que preferiu manter o nome sob sigilo. “As condições hoje impostas pela empresa levam boa parte da margem pela venda dos combustíveis. No entanto, se eu deixar de aceitar essa forma de pagamento, perderei clientes para outros postos que trabalham com estes cartões“, explicou.
Na verdade, o revendedor se sente em desvantagem por ter apenas um único posto. “Se minha empresa fosse uma rede de postos, seria mais simples negociar diretamente com o cliente, sem o uso do cartão. No entanto, como tenho apenas uma unidade, não ofereço opções para que os clientes abasteçam em outras cidades ou estados enquanto se deslocam pelo país. Assim, acaba sendo necessário continuar com o cartão, para não reduzir ainda mais as vendas“.
Por temer represálias por parte da empresa, o empresário solicitou que o seu nome ou o posto não fossem divulgados pela reportagem. “As condições atuais já estão ruins e a empresa negocia as taxas caso a caso. Ou seja, pode ficar ainda pior“, disse. Segundo ele, a taxa cobrada pela Ticket é de 3,5%, além de R$ 0,69 por cada transação.
Além disso, o prazo de reembolso é de de 41 dias mais a semana (o pedido de pagamento é feito semanalmente). Assim, na média, o prazo para ressarcimento acaba sendo de 43 dias.
Existem algumas empresas que utilizam o cartão para abastecimento de frotas leves.
É o caso , por exemplo, de clientes que fazem serviços de manutenção.Muitas vezes, o funcionário abastece um valor pequeno. Apenas como exemplo, nosso ticket médio de etanol é R$ 23. Sobre esse valor, descontamos os 3,5% e R$ 0,69. Isso compromete boa parte do lucro, afirmou.
A situação é exatamente a mesma apontada por outro empresário, desta vez do Rio Grande do Sul, que relata, ainda, outros custos envolvidos no pagamento feito pela empresa. “Nós pagamos uma tarifa bancária de R$ 15 a cada depósito e, se o valor solicitado for inferior a R$ 250, há ainda uma taxa de manutenção de R$ 44“, completou.
Nos dois casos, os postos pagam taxa de 3,5%. No entanto, há casos em que esse valor chega a 5,5%, corroendo parcela significativa da rentabilidade do empreendedor. Isso sem contar as taxas de credenciamento e anuidade.
“Apresar da taxa tão alta, se eu me recusar a aceitar o cartão, perderei os clientes para a concorrência”, contou outro revendedor, também de São Paulo, que paga taxa de 5%.
Situação piorou com a concentração
O descontentamento da revenda com cartões de frota não é recente. Entretanto, conforme o setor foi se concentrando, com a junção das principais empresas, o quadro passou a ficar mais crítico. No passado, as taxas ficavam na casa dos 2% e o prazo de reembolso era de aproximadamente 25 dias.
Questionada sobre suas taxas e práticas, a Ticket Log encaminhou uma nota por meio de sua assessoria de imprensa. “A Ticket Log preza pelo relacionamento com todos os seus públicos e esclarece que cada relação contratual acordada é tratada de maneira individualizada levando em conta cálculos com base em uma série de indicadores, realizados com cada estabelecimento a ser credenciado ou que seja credenciado. A Ticket Log informa ainda que em todas as suas relações comerciais adota uma conduta idônea, em conformidade com a legislação brasileira, em suas negociações com todos os públicos. Reforça ainda que tem um Código de Ética e Conduta e processos internos que visam garantir um relacionamento transparente e ético”
Questionada a respeito da fusão com outras empresas do semento, a assessoria apenas destacou que a “Ticket Log reforça que é uma marca que conta com seu próprio arranjo de pagamento e emissão de seus cartões“. De qualquer forma, fica claro que a falta de concorrência no segmento é uma das razões da cobrança de taxas tão elevadas. Hoje o setor de cartões de créditos se tornou bastante competitivo. Com isso, as taxas baixaram significativamente. Alguns bancos chegam a cobrar 0.8%.”A taxa que pago para o cartão de crédito é 1,58 % e no débito, 0,62%”, e no de débito, 0,62%, disse um revendedor que arca com a taxa de 3,5% para a Ticket, além das demais cobranças citadas“.
Questionado o Banco Central informou que os cartões de frota são regulamentados pelo Sistema de Pagamentos Brasileiro, seguindo as mesmas regras dos demais cartões.
Porém, o órgão não interfere na cobrança de taxas.
Conciliação de valores é outro problema
Não bastassem as elevadas taxas, erros na conciliação de valores são bastante comuns. “O sistema é confuso e é necessário ter muito cuidado para evitar que alguns valores deixem de ser recebidos“, apontou um empresário gaúcho, que passou a contar com um serviço de conciliação terceirizado depois de ter identificado várias perdas.
Reinaldo da Luz, administrador da C3 Conciliar, destaca que realmente não é simples identificar o que está sendo pago. “A forma como isso é demonstrado não é amigável visualmente. O relatório vem sempre amortizando parte de vendas a receber nem sempre no valor total do seu debito, além de comumente conter uma parte/fração de valores até alcançar o montante a ser debitado, o que fica difícil de ser detectado ou acompanhado manualmente explicou“.
Segundo ele “existem vários serviços tarifados pelas operadoras dos cartões de frota como Taxa de Adesão (valor prefixado), Anuidade Variável (percentual sobre o faturamento de vendas com a ticket), Tarifa de Transferência Bancária (doc), Taxa por Transação (valor fixo) entre outros.
O posto precisa entender exatamente o que está contratando e qual o custo final, ou seja, a taxa de administração, mais serviços e valores cobrados, o que pode facilmente, ultrapassar os 4,5% de custo total final da operação“, apontou.
Porém, de acordo com Luz, além do custo elevado, o grande problema é existem falhas operacionais, que levam muitas vendas a ficarem perdidas, até que o posto faça a contestação dos valores.
Inovações nos meios de pagamento
Enquanto o mercado de cartões de frota está cada vez mais concentrado, impondo condições indevidas aos seus clientes por falta de competitividade, o mercado de meios de pagamentos passa por um momento de profundas formes transformações. Hoje, as formas de pagamento por meio de uso de celular o QR Code, inteligência artificial e sistemas de autenticação (biométrica, reconhecimento facial, digital de voz , entre outros) estão sendo discutidas pelo mercados, com o intuito de, em breve, substituem os cartões de crédito e de debito.
Esses temas foram alvo de intensa programação de debates durante a Futurecom 2019, evento que a partir de desse ano passou a incluir a Cards Future Payment, que até a versão anterior era um fórum restrito aos meios de pagamento.
Entre os dias 28 e 31 de outubro, vários players do mercado discutiram estratégias para promover maior segurança nas transações, especialmente as digitais, o uso de criptomoedas, aplicativos para pagamentos, entre outros.
Fonte: Revista Combustível e Conveniência.
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