A Revista Escalada entrevistou economistas, especialistas e consultores do mercado de combustíveis para apontar as principais tendências para o ano.

As análises apontam possíveis caminhos para a revenda, desde os preços internacionais do petróleo até a conjuntura interna. Desdobramentos da pandemia também estão em pauta.

? Mercado em transformação e disruptura

Nélio Wanderley, administrador de empresas e CEO da Posto Seguro Brasil Consultoria. Também é sócio do Nortear Petro, um portal de inteligência de mercado.

“O setor de combustíveis sofre uma disruptura para a substituição dos produtos fósseis por produtos de menor potencial poluente”.

Mas vale ressaltar que o Brasil contribui com apenas 3% do total de CO2 colocado no meio ambiente em comparação ao mundo, e tem uma legislação muito rígida e regulamentada para os empreendimentos potencialmente poluentes. Além disso, existe uma série de alterações na legislação específica para o segmento de combustíveis, que podem mudar o jogo e alterar as previsões para 2022.

Diante disso, as tendências que vejo são as seguintes:

1️⃣ Petróleo: em geral, vejo o Petróleo estabilizado entre US$ 60 e US$ 80, variando conforme o consumo internacional. Este consumo, por sua vez, será influenciado pela Covid-19. Com a pandemia perdendo força, há tendência de elevação do consumo. Também pode haver sobra de petróleo por excesso de produção e com a liberação de estoques reservas (de países como EUA, China e Japão). Caso a pandemia volte a piorar, o consumo se retrai e isso têm reflexo com queda do preço .

2️⃣ Dólar: vejo com estabilidade, sem flutuações gritantes, pois entraremos em período eleitoral no Brasil e existe uma instabilidade no cenário econômico (geração caixa) que está no limite. Sendo assim, acredito que o dólar ficará entre R$ 5,40 e R$ 5,70.

3️⃣ Etanol: a safra de 2021/2022 será determinante para a definição dos preços. Quebra de safra ou excedente de produto definirão esse novo patamar. Vejo que se o preço da gasolina flutuar para cima, o Etanol irá na proporção de 70%, pois se trata de um produto com estoque limitado e não convém ficar com excesso de competitividade comprometendo o estoque na entressafra. Acredito num etanol hidratado entre R$ 3,40 e R$ 3,60. Enfim, tudo pode acontecer… Inclusive nada! A aprovação do novo marco legal do setor de combustíveis no Brasil será determinante para qual rumo o mercado irá.

4️⃣ Existe também a questão da entrada dos veículos movidos a eletricidade, biocombustíveis, GNL (gás natural liquefeito), hidrogênio, híbridos, entre outros. A velocidade que isso irá acontecer dependerá de quatro fatores: veículos com valor acessível (na faixa dos US$ 7 mil), rapidez na recarga/abastecimento, volume de produção elevado e preços competitivos. O alcance desses pontos definirá a velocidade da “disruptura”.

? Entre a volatilidade e a estabilidade

Geraldo Lucena, consultor e colunista do Nortear Petro.

“Nossa visão para o preço do petróleo BRENT no mercado internacional para 2022 é que obedeça uma variação de US$ 65 a US$ 85.”

Dados da Energy Information Administration (EIA), no dia 18/11, sinalizam que existe um descompasso entre demanda e oferta, o que vem gerando preços altos, mas estima-se que o cenário atual sofra reversão em 2022.

Por outro lado, em se tratando de uma commodity, é possível que sofra ajustes promovidos pelo aumento da inflação, além de outros fatores de mercado como demanda global e ajuste estratégicos da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados, conhecidos como OPEP +. Em síntese, o mercado poderá sim permanecer bastante volátil e incerto durante o primeiro semestre, apresentando um cenário mais claro no segundo semestre.

Quanto ao mercado da revenda, nossa previsão é que permaneça apertado quanto ao fator caixa, porém, com uma folga nos volumes de venda, devido à possibilidade de aumento no consumo e retomada da economia. Também não será um ano fácil para o mercado financeiro e variações cambiais, por ser um ano de eleições, o que gera bastante turbulência nos investidores.

Necessidade de se adaptar e novas ferramentas tecnológicas

Renato da Silveira, é especialista em estratégias para o segmento de postos e lojas de conveniência atua como mentor, consultor e palestrante e fundador da plataforma Brasil Postos.

Aponto cinto tendências para 2022 que vão mudar completamente a forma de gestão das revendas.

 

1️⃣ Sistema de compra e precificação inteligente – A compra de combustível está mudando e no ano que vem as novas tecnologias, baseadas na inteligência artificial, devem chegar com força para ajudar o revendedor nos processos de compra – considerando o estoque atual, os dados históricos de venda, o preço dos concorrentes e a margem que o revendedor deseja.

Os processos anteriores de compra de combustível e precificação baseados no volume contratado e no preço dos concorrentes serão substituídos por sistemas inteligentes e predizíeis.

2️⃣ Investimento nas Loja de Conveniência – As grandes distribuidoras estão apostando alto nas operações de loja de conveniência, dentro e fora do posto. Com melhores margens
e capacidade de fidelizar o cliente, os revendedores finalmente estão entendendo que a única forma de garantir a sobrevivência é por meio da oferta integrada que contempla a
venda de combustíveis junto com os produtos e serviços da loja.

3️⃣ Meios de Pagamentos Digitais – Os  pagamentos digitais, seja por aplicativo, PIX , Pic Pay e outros, vieram para ficar. Em 2022 teremos a consolidação desse formato, que pode ajudar o revendedor a vencer seu maior inimigo, que é o Cartão Frota.

4️⃣ Capacitação e Treinamento – O  varejo de combustíveis e de conveniência está passando por uma grande disrupção, ocasionando grandes transformações na forma
de gestão de um posto de combustível. O revendedor que não voltar para a sala de aula e voltar- -se para o aprendizado contínuo vai ficar pelo caminho, uma vez que a profissionalização do setor está cada vez mais presente”

5️⃣  Aplicativos próprios – Os revendedores estão observando que os consumidores estão adotando a compra de combustiveis  e consulta de preços pelo aplicativos que estão sendo oferecidos pelas distribuidoras como Abasteça Ai e Ame Digital, por exemplo. Ao mesmo tempo que avaliam o risco de romper o contrato e perder todos os clientes do aplicativo. Isso tem levado as grandes redes a investir no seu próprio aplicativo para garantir a sua carteira de clientes.

Crescimento do consumo deve continuar

Eugênio Stefanello, mestre em economia e professor da FAE Centro Universitário.

Para analisar preços, é fundamental fazer uma análise do comportamento da economia e do comércio mundiais.

No ano passado, em razão do lockdown, da ruptura das cadeias de suprimentos e das medidas restritivas para combate ao coronavírus, a economia de alguns países teve queda e, posteriormente, uma recuperação em 2021, fruto da liberalização do lockdown e do retorno das cadeias de suprimentos, do transporte e comércio a nível mundial.

O último relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostrou que havia perspectiva de recuperação da economia mundial, com crescimento médio de 5,9% em 2021, e 4,9%
em 2022. Mas isso tudo provavelmente será revisto, devido à ruptura das cadeias de suprimento e aumento dos fretes.

Essa regularização da cadeia e do comércio só deve ocorrer a partir do segundo semestre do próximo ano. Outro ponto importante para análise da economia é a notícia de uma nova cepa do coronavírus, que derrubou bolsas de valores e inclusive cotações das commodities.

Além disso, o preço do barril de petróleo passou de US$ 83 a US$ 70. Ninguém sabe, por enquanto, qual o efeito desse cenário na economia mundial, mas, analisando a situação, o ritmo de crescimento do PIB mundial pode ser um pouco menor do que o esperado. Em
uma visão de médio prazo, as corretoras mais ligadas à economia petrolífera têm previsto
que os preços do barril, se não tivermos surpresas, deverão ficar entre US$ 70 e US$ 80.

No Brasil, a taxa de câmbio chegou a R$ 5,88, fruto de problemas na política fiscal; de problemas políticos propriamente ditos, de disputa entre os poderes e do desempenho da
economia brasileira. Para o ano que vem, o consenso é que não ficaria abaixo de R$ 5 nem acima de R$ 5,90. As estimativas para o PIB brasileiro no próximo ano também variam. Eu sou cético com relação a uma possível queda, embora o comportamento do PIB dependa de uma série de variáveis que são difíceis de prever.

Embora tenha menor participação na economia, o setor primário teve um crescimento muito positivo no Brasil em 2020. E a próxima safra agrícola nacional pode chegar a 290 milhões de toneladas. O último relatório do Banco Central prevê crescimento de 4,7% para o PIB brasileiro em 2021. O consumo de petróleo está relacionado ao crescimento do PIB, e o consumo de gasolina e diesel tem crescido no último ano, apesar do significativo aumento nos combustíveis. Me parece que a tendência é que continue crescendo no
ano que vem. Com base em todas essas variáveis, acompanhando os indicadores da economia, eu não vejo uma redução do consumo de combustíveis para 2022, vejo aumento, apesar dos preços.

A política de preços da Petrobras não vai mudar. E os estados também não vão abrir mão da alíquota que compõe o preço.

Mas pode ser que a pandemia nos cause surpresa. O PIB ainda pode crescer, mas em ritmo
menor do que neste ano. Com relação à redução no consumo de combustíveis fósseis, só vejo mudanças a médio e longo prazo, pela necessidade de transformação energética da
economia mundial e brasileira, a fim de tornar menos poluente.

José Pio Martins – futuri9 – apoio à inovação e ao empreendedorismo para  startups e empresasJosé Pio Martins, economista, professor da Universidade Positivo, palestrante e consultor

O ano de 2022 talvez seja o primeiro ano relativamente liberado, após o início da pandemia, para produzir, distribuir e consumir sem a imposição de lockdown, fechamento de estabelecimentos comerciais e de serviços, impossibilidade de trabalho para profissionais e
retração do funcionamento das indústrias.

Assim, o cenário que se apresenta para 2022 é de aumento da demanda de combustíveis,
tanto pela retomada da produção nacional quanto pelo aumento do consumo. E esse movimento é mundial.

As principais características nervosas que já se apresentaram são a inflação (que é um fenômeno mundial), aumento dos preços do petróleo (até em face da redução da produção nos países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo – Opep),
desvalorização das moedas de países menos desenvolvidos e ainda pesada carga tributária.

Espera-se que os países membros da Opep elevem a produção diária medida em barris de
petróleo, como forma de aumentar a oferta e frear a subida de preços, quem sabe mesmo
até reduzir. Vale lembrar que, em abril de 2020, o preço do barril de petróleo chegou a US$
23. No fim de 2021, a cotação bateu US$ 80.

Então, os fatores do cenário esperado são: primeiro, aumento da produção de petróleo, e, segundo, redução do preço do barril.

Se isso acontecer, os derivados de petróleo podem dar um alívio nos custos para empresas e famílias, bem como contribuir para a queda das taxas de inflação. Para o varejista, caso dos postos, não se espera aumento da margem bruta entre o preço de compra e o preço de venda, mas eles podem ser beneficiados com aumento de vendas decorrente do aumento do consumo motivado por queda de preços e aumento das atividades econômicas.

Por outro lado, espera-se que continuem as pressões políticas e sociais sobre as fontes
poluidoras e os processos industriais prejudiciais ao meio ambiente, ainda que essas
pressões sejam carregadas de certa dose de exagero e alguma desinformação. Outro ponto que foi revelado de forma dura para as finanças das pessoas e do sistema produtivo é a elevada carga tributária embutida em toda a cadeia produtiva dos combustíveis, a ponto de, em alguns momentos, a população ter acreditado que as margens do comércio varejista eram muito altas, quando a diferença entre o preço no início da cadeia  (caso da Petrobras) e o preço final ao consumidor é alta em razão da tributação.

Mas, dada a eterna sanha arrecadatória dos estados e União Federal, não há muita esperança de redução de impostos, principalmente se houver alguma queda nos preços. O caso do gás é um pouco diferente, mas em boa medida tem as mesmas causas dos derivados do petróleo, com a diferença de que as oscilações de preços do gás não tenham sido iguais e nos mesmos momentos do petróleo.

As fontes alternativas continuarão ganhando simpatia e pressão dos movimentos sociais
para que sejam aumentadas. Porém, essas fontes não conseguem substituir as fontes tradicionais em volumes altamente expressivos, pelo menos não a curto prazo.

Por fim, há enorme dúvida quanto ao que fará os Estados Unidos em relação a sua política para exploração das fontes de petróleo e quanto ao rumo que tomará a China em termos de crescimento econômico e de fontes de suprimento de sua demanda.

Fonte: Revista Escalada

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