Presente em cinco estados brasileiros, a Rede Marajó deve inaugurar a nona capela até o fim deste ano
Imagine que grata surpresa parar em um posto de combustíveis de uma estrada e descobrir que nele há uma capela com Jesus Eucarístico, aberta 24 horas por dia.
Foi com isso que se deparou o Padre Marcelo Henrique Gonzalez Dias e seus pais, no começo deste ano, durante uma viagem rumo a Araguari (MG), quando pararam em um posto de combustíveis em Frutal (MG).
“Chegamos perto do restaurante e notei que logo ao fundo tinha uma capela. Resolvemos nos aproximar e, chegando à porta, constatamos que tinha o sacrário, altar e mesa da Palavra”, detalhou o Sacerdote ao O SÃO PAULO.
“Vimos que era uma bela capela preparada tanto para a oração individual quanto para celebrações litúrgicas. Rezamos um pouco e seguimos nossa viagem”, acrescentou Padre Marcelo, do clero da Diocese de Marília (SP), com atuação nas cidades paulistas de São João do Pau D’Alho e Nova Guataporanga.
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A capela é uma das oito em funcionamento construídas e mantidas pela Rede Marajó de postos de combustíveis e estão em unidades localizadas no Pará, Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais. A nona está em construção, com previsão de ser inaugurada ainda neste ano.
Além de ficar diante do Santíssimo, quem passa pelas capelas tem a possibilidade de participar da missa ou ter atendimento de um padre, seja para Confissão, aconselhamento ou oração.
“Eu acredito que esta é uma excelente forma de evangelizar os caminhoneiros e demais trabalhadores ou turistas que usam as estradas. Num mundo tão secularizado e ao qual a Igreja tem dificuldade de anunciar o Evangelho, tal iniciativa ajuda a reavivar a experiência de fé em muitas pessoas”, opinou Padre Marcelo.
DÉCADAS PROMOVENDO A FÉ
A primeira capela construída pela Rede Marajó foi a do posto de Nova Olinda (TO), às margens da BR-153, há exatos 30 anos.
Na época, Janeth Vaz, presidente do conselho corporativo da Rede Marajó e responsável pelas capelas, havia começado a participar da Renovação Carismática Católica (RCC).
“Tive uma experiência pessoal muito profunda com o Espírito Santo. Fui tocada pelo Senhor e me deixei dominar por Ele. Comecei uma busca constante da minha espiritualidade, tornei-me assídua na Igreja, nas participações da missa e nos eventos da RCC”, contou Janeth à reportagem.
Inicialmente, o marido de Janeth, também católico, revelou-se incomodando com a frequência da esposa nas atividades da Igreja. Um dia, disse que construiria uma igreja no quintal de casa, para diminuir as saídas dela. “Tomara mesmo que você faça, mas o maior frequentador dela não será eu, mas, sim, você”, disse Janeth ao esposo na ocasião.
E foi o que aconteceu. Logo após também passar por uma experiência de fé, o marido de Janeth retomou a conversa sobre a construção de uma capela, desta vez no posto de combustíveis do casal.
Desde a inauguração da primeira capela, em Tocantins, o casal tem conseguido permissão da Igreja para manter nela o Santíssimo. Assim também tem sido nas demais, que ficam em: Aparecida de Goiânia (GO), Belém (PA), Frutal (MG), Centralina (MG), Várzea Grande (MT), Santana do Araguaia (PA) e Hidrolândia (GO).
Nas capelas, há missas semanais, com exceção de Nova Olinda, em que a celebração é mensal. “Na capela de Belém, por exemplo, se celebra até casamentos, pois a vizinhança dali passou a frequentá-la. Assim como ocorre em Frutal e em Centralina”, contou Janeth.
Em Belém, ocorrem ainda missas dominicais, com atendimento de Confissão.
“Esse serviço de Confissão que os padres prestam nas capelas é dedicado aos caminhoneiros”,
comenta Janeth, destacando que é para estes trabalhadores que as capelas são especialmente pensadas.
“Já na primeira construção, observamos a assiduidade dos caminhoneiros, que, além de cansados, estão longe da família. Eles encontram na capela um momento para se ajoelhar e agradecer a Deus na presença viva de Cristo, no Santíssimo”, disse Janeth.
Para ela, “o coração da Marajó é a capela”. E as capelas são para os caminhoneiros como “um oásis no meio do deserto”, ou melhor, “um oásis na beira da estrada”, onde eles podem beber da fonte viva que é Jesus Eucarístico.
DEVOÇÃO MARIANA
Todas as capelas têm um título mariano, devido à grande devoção de Janeth e sua família à Virgem Maria. Isso também é uma forma de estender os laços com os caminhoneiros.
“Quando o caminhoneiro é católico, ele é muito mariano. Ele quer carregar alguma coisa de Nossa Senhora em seu caminhão, pode ser até um adesivo. E as capelas dedicadas à Virgem Maria são um convite aos caminhoneiros devotos”, contou.
Janeth ainda frisou que cada capela é idealizada individualmente, desde a escolha de cada título mariano, que parte da oração que ela faz pedindo inspiração ao Espírito Santo, até os elementos da estrutura. Ela cita o exemplo da arquitetura da capela de Belém.
“O arquiteto fez o teto como se o manto de Maria estivesse caindo, protegendo os filhos.”
VIVENDO A FÉ
Segundo Janeth, pelo menos dois caminhoneiros desistiram de cometer suicídio após passarem por uma delas.
O primeiro testemunho aconteceu em Nova Olinda, na Capela Nossa Senhora das Graças, quando um caminhoneiro chegou ao posto desesperado, dizendo que tiraria a própria vida.
“Ele disse isso ao frentista, que o encaminhou à capela. O guarda do plantão o acompanhou e conversou com ele, que permaneceu um tempo na capela. Ao sair, o homem disse que foi uma graça de Deus ter encontrado aquela capela com o Santíssimo. E que não mais cometeria suicídio.”
O outro relato, mais recente, aconteceu há cerca de cinco meses em Belém, na Capela Nossa Senhora de Nazaré.
Na ocasião, um padre da região que passava em frente à capela achou que a luz do sacrário estava apagada. Ao entrar para acender, viu que ela estava acesa e que havia um homem chorando.
Ao se aproximar e perguntar se poderia ajudar, o padre ouviu do homem que ele tinha entrado ali com pensamentos suicidas, mas tinha dito a Deus que, se ele encontrasse um padre, mudaria de ideia. “O padre, então, se revelou. Eles conversaram, rezaram juntos e o homem mudou de ideia”, contou Janeth.
A ESPIRITUALIDADE DA REDE
Fé em Cristo é um dos valores da Rede Marajó. Por isso, diariamente, em todas as unidades, mesmo onde não há capela, das 8h às 8h30, o trabalho é paralisado para se fazer uma oração em grupo, a partir da liturgia do dia.
“Ninguém é obrigado a participar, mas todos são convidados. Entretanto, quem não participa da oração, durante esses 30 minutos, não pode adiantar o serviço. Deve ficar parado”, contou.
Janeth disse ainda que a resposta à oração é muito positiva. “Independentemente de ser católico ou não, todos participam. Quando iniciamos [a oração diária], pensava comigo que não seria fácil manter essa perseverança. Mas já são 30 anos que isso acontece.”
“É pela graça de Deus que há unidade. Além daqueles que fazem as leituras, há os que levam violão e tocam, independente da fé que professam.”
Atualmente, a Rede Marajó é dirigida pelos filhos de Janeth, que, segundo ela, pretendem seguir com a oração diária e construir capelas em todos os postos. A próxima inauguração, prevista para dezembro, será da Capela dedicada a Santa Rita de Cássia e Nossa Senhora d’Abadia, em Cariri (TO).
Fonte: https://osaopaulo.org.br/
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