Reportagem do jornal Classe A ouviu frentistas, gerentes de postos e um técnico de Segurança do Trabalho para saber o porquê dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI´s) serem pouco usados pelos profissionais que trabalham em contato direto com o combustível em Luís Eduardo Magalhães. Embora a inalação desses produtos possa causar sérios danos à saúde, a resistência ainda é o maior entrave.

Uso de EPI´s encontra resistência em Postos de Combustível
O acidente de trabalho que aconteceu com Andreia Cícero da Silva, 29 anos, embora singular, poderia ter sido evitado. Frentista em um Posto de Combustíveis de Luís Eduardo, ela teve o ouvido esquerdo encharcado de gasolina. Desde então tem dores de cabeça frequentes, e normalmente, para atenuar a dor precisa de medicação especial. “Eu estava atendendo um cliente em uma bomba vizinha. A colega que atendia outro cliente ao meu lado pegou a mangueira e ela estava travada. No que liberou, a gasolina espirrou e atingiu meu ouvido”, lembra.

Ensopada de combustível, Andreia entrou em desespero. Além do ouvido, teve os olhos atingidos pelo produto químico. Foi um cliente que a socorreu. O atendimento aconteceu na Unidade Mista Dr. Gileno de Sá Oliveira. O médico que a atendeu fez uma lavagem no ouvido e a receitou um medicamento para o caso das dores continuarem. Ela tentou retornar ao trabalho. Continuou por mais um ano, convivendo com frequentes dores de cabeça e no ouvido. Há dois meses, sem aguentar mais, entrou em acordo com a empresa e saiu. Hoje, ainda desempregada, só não quer voltar a trabalhar como frentista. “Não posso com o cheiro, sempre tenho dores de cabeça”, conta.
Andreia trabalhou como frentista por mais de um ano e não se lembra de ter recebido orientação ou qualquer tipo de equipamento de proteção individual. Além do uniforme, apenas uma bota – muitas vezes inadequada – faz parte do material entregue aos novos funcionários. A orientação se restringe ao manuseio das bombas. “Não tem equipamento nenhum de proteção”, resume em conversa por telefone na tarde da última quarta-feira, 02.
Segundo o Técnico de Segurança do Trabalho, Duardo Francisco da Silva, professor do curso de Segurança do Trabalho no Instituto Educacional do Oeste Baiano (IEOB), o mínimo que um frentista deveria receber de seu empregador é uma máscara para inalação de vapores orgânicos, um óculos protetor e botas de segurança. O que mantém o risco de acidentes ou problemas futuros de saúde para os frentistas é ineficácia na fiscalização, em especial do Ministério do Trabalho. “Normalmente a fiscalização só acontece quando existe uma denúncia”, explica, ressaltando que faltam profissionais suficientes para o trabalho de fiscalização nos órgãos competentes.
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“Muitas vezes o empregador não tem conhecimento sobre as normas. O ideal seria que ele tivesse um profissional na empresa diretamente no ambiente de trabalho”, reforça. “Tem pessoas que até podem ter conhecimento das normas de segurança do trabalho e da importância do uso dos EPIs, mas enquanto, não houver uma fiscalização mais assídua, deixam como está”, pontua. Duardo acrescenta que, mesmo quando utilizadas, é fundamental que o empregador registre a entrega dos equipamentos de segurança e realize algum tipo de acompanhamento. “Pela norma você tem que dar um treinamento para o funcionário, em caso de vazamento, incêndio, ou algo do tipo”, completa.
Em resumo, o técnico de Segurança do Trabalho sustenta dois fatores como preponderantes para a não utilização constante de EPI´s nos Postos de Combustível de Luís Eduardo Magalhães e região: falta de fiscalização e desconhecimento do empregador. Para o caso de uma lei municipal que viesse a normatizar o uso, Duardo é taxativo: “Teria de ser mais exigente que a federal”. 
O maior perigo
O acidente com Andreia, por mais raro que seja, é possível que lhe reserve sequelas por um longo período, caso ela não procure ajuda médica e inicie um tratamento especializado o mais rápido que puder. Para Duardo, é provável até que ela já esteja com alguma infecção, o que fortalece ainda mais a necessidade de Andreia buscar tratamento.
“A gasolina tem diversos vapores, entre eles o benzeno que corresponde a 1% de sua constituição e é um produto extremamente perigoso”, explica o técnico. A orientação sobre a manipulação da gasolina e do álcool prevê que seja feita com ventilação local exaustora ou geral diluidora, de maneira que seja garantido que a concentração dos vapores fique inferior ao limite de tolerância especificado na Ficha de informação de Segurança de Produto Químico (FISPQ), disponível no site da Petrobrás (www.br.com.br).
“A inalação por via oral dos vapores da gasolina podem causar danos neurológicos, dor de cabeça, infecção pulmonar, tontura. O contato com a pele pode causar ressecamento e o contato prolongado, dermatite. Porém, O mais perigoso é a inalação dos vapores”, observa Duardo.
“Os próprios frentistas evitam o equipamento”, diz gerente 
Uma passagem pelos Postos de Combustível da cidade entrega: em nenhum há o uso de EPI´s. Em um desses postos, uma frentista que não quis se identificar revela que já está acostumada com o cheiro do combustível. Há oito meses trabalhando com o abastecimento de veículos, ela conta que até recebeu o equipamento de segurança da empresa, mas o desconforto a fez desistir do uso. O detalhe nesse caso é que seu uniforme se restringe a uma camiseta com a logo marca do posto. De resto, ela usa calça jeans e uma bota que pouco ajuda na proteção em caso de algum acidente.
Opinião semelhante tem outra frentista, funcionária de um dos maiores postos da cidade. Embora tenha ciência dos riscos à saúde que está correndo por não usar qualquer tipo de equipamento de segurança, ela fica temerosa só com a possibilidade de ter de voltar a usar a máscara. “Já recebemos a máscara, mas ela gastou e acabamos deixando de usar”, disse. “Se usasse seria melhor, é bom trabalhar com segurança, o problema é que o equipamento atrapalha principalmente a máscara”, continua, em tom ainda mais resistente.
José Vargas, gerente de pista de um grande Posto de Combustível da cidade confirma a tendência dos funcionários quanto ao uso do equipamento de proteção. “Quando o funcionário é contratado ele recebe, o uniforme de identificação do posto, uma botina impermeável, luva e em alguns casos a máscara”, conta.
Todos os anos a empresa responsável pelo combustível comercializado no posto realiza um treinamento com o quadro funcional da empresa. Vargas explica ainda que periodicamente uma empresa ligada a saúde e segurança do trabalho realiza um trabalho de acompanhamento com o pessoal que trabalha diretamente em contato com os produtos químicos, gasolina, diesel e etanol.
“A gente procura tomar todo cuidado, porque sempre existe o risco de fiscalização. O funcionário que vier trabalhar sem a bota ou o uniforme é solicitado a retornar para casa buscar seu equipamento. Esse controle serve para a própria segurança do funcionário, no caso de um derrame acidental de combustível, por exemplo”, afirma o gerente.
Responsável pela gerência de uma rede de postos na cidade, Marcos Roberto tem opinião semelhante ao colega José Vargas. “A gente tem o termo de recebimento assinado pelo funcionário, mas eles próprios evitam usar o equipamento”, diz. Marcos se mostra até favorável ao uso, caso se torne obrigatório, o problema segundo ele, será fazer com que os funcionários se acostumem principalmente à máscara. O gerente confirma ainda que todo ano o pessoal que trabalha com as bombas passa por exames médicos para avaliação da situação da saúde.

 Fonte: Jornal Classe A

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